quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Zuzu Angel

Zuzu Angel (2006)


Branca Moura Machado

“Se meu filho é inocente ou culpado, que ele seja julgado! O que eu não aceito é que vocês finjam que ele não existe!” Esta afirmação de Zuzu Angel (Patrícia Pillar) resume sua trajetória nesse filme: uma mulher que passou a viver na busca de provar o que tinha acontecido a seu filho.

Em uma época na qual mulher desquitada era considerada vagabunda e foi decretado o fim do Habeas Corpus para presos políticos, Zuzu teve seu filho Stuart Angel (Daniel de Oliveira) assassinado pelo governo, sem que nunca se admitisse isso.

É interessante observar, durante o filme, o embate entre Stuart e sua mãe a respeito do envolvimento dele com a luta armada: ela questionando, ele defendendo. Em um certo momento, ela afirma que suas costureiras estão lutando para sobreviver e não têm tempo para revolução, enquanto Stuart acredita em sua missão libertadora. Em outra cena, Sônia (Leandra Leal), esposa de Stuart, está fugindo para o Paraguai e Zuzu reflete: “Vocês são muito racionais... Será que, pelo menos, sentirão saudade um do outro?”.

O figurino e as estampas das roupas que Zuzu veste e cria variam de acordo com o amadurecimento político da estilista. Do tributo ao Brasil à decepção com o país e seu regime político; tudo se reflete em suas criações.

O diretor Sergio Rezende, algumas vezes, carrega na dramaticidade. A cena em que Zuzu lê a carta que relata a morte de seu filho perde veracidade por ser exagerada. Os movimentos são grandes, a água na banheira transborda; talvez, com movimentos e expressões mais discretos, fosse possível transmitir muito mais emoção. Também desnecessária a cena em que Zuzu procura o pai de Carlos Lamarca e, enquanto ela fala, ele, que é sapateiro, morde o prego que segura na boca e o sangue começa a jorrar.

Em compensação, há cenas que utilizam com eficiência as ferramentas da linguagem cinematográfica. No restaurante, a conversa entre Zuzu e o representante da Anistia Internacional, na qual se foca e se desfoca ao fundo a imagem de um espião, transmite seu significado sem utilizar o costumeiro close.

Ao final, é emocionante constatar como cada pessoa tem uma lembrança diferente de um mesmo momento compartilhado. Enquanto Zuzu relembra um dia na praia em que se apavorou por pensar que o filho, ainda criança, havia sumido; ele se lembra apenas do abraço do encontro e de como se sentiu protegido naquele momento. E Zuzu não deixou de protegê-lo, mesmo quando ele já havia ido...

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