sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Vicky/Cristina/Barcelona

Vicky/Cristina/Barcelona


Branca Moura Machado, 20/11/2008

Esta não é a primeira vez que escrevo sobre um filme de Woody Allen. E, com certeza, não será a última. Seus filmes me motivam a escrever. Aliás, me dão vontade de estar neles.

O diretor retrata o país em que ambienta suas histórias de maneira íntima e envolvente. E não capta apenas sua beleza, mas seu charme. Em Vicky/Cristina/Barcelona, vemos uma Espanha linda, mas, principalmente, agradável, cultural e sensual. A Sagrada Família, o Parque Guell, a La Pedrera, o violão espanhol, a cidade de Oviedo; tudo reforça o efeito do país nas amigas Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlet Jonhanson).

Logo de início, elas são apresentadas por um narrador em off e descobrimos o motivo pelo qual resolveram passar o verão em Barcelona. Vicky precisa fazer pesquisas para sua tese de mestrado sobre a identidade catalã. Cristina almeja viver aventuras e, de quebra, descobrir o que quer, já que, até então, sabe muito bem o que não quer. Vicky está noiva e acredita na beleza do compromisso amoroso. Atriz iniciante, Cristina acaba de fazer um filme de 12 minutos sobre como é difícil definir o amor.

Certa noite em Barcelona, Vicky e Cristina vão jantar em um restaurante e, lá, avistam o pintor Juan Antonio Gonzáles (Javier Bardem) a quem já tinham visto na inauguração de uma galeria e sobre o qual sabiam: “Ele quase matou a mulher Maria Elena ou ela quase o matou...” Cristina olha para o pintor, visivelmente interessada. Ele acaba indo até a mesa das garotas e convidando-as para passarem o fim de semana em Oviedo. Vicky se ofende com o atrevimento do desconhecido. Cristina adora. Vicky o confronta: “O que vamos fazer em Oviedo?” Ele responde: “Vamos comer bem, tomar bom vinho e fazer amor!”, ela rebate: “Com quem?”, ele conclui: “Nós três, certo?”

Neste momento, é possível perceber o conflito de personalidades entre as amigas e a proposta de Juan só vem reforçar o paralelo entre as duas. Ele se afasta para deixar as amigas decidirem. E, como Cristina está bastante disposta a ir, Vicky a repreende: “Cristina, isto é impulsivo até para você! Um homem encantadoramente franco que bate na mulher!” E Cristina responde: “ Ele não é um desses caras produzidos em série!”

Em Oviedo, eles fazem turismo e passeiam pela linda cidade. Juan, elegante e charmoso, vai aos poucos vencendo a resistência das garotas. Juan seduz as amigas cada uma a seu modo. Vicky é apresentada ao pai do pintor que é poeta e se recusa a aprender qualquer outra língua, pois não quer “poluir sua escrita”. Ele também a leva para ouvir violão espanhol, algo que a emociona profundamente. Cristina é seduzida pelo básico: ele é pintor, espanhol, atrevido e completamente diferente dos homens americanos.

Quanto a Maria Elena (Penélope Cruz), sua ex mulher, ele fazia comentários que tanto a criticavam quanto idolatravam. Ela estava em Madri, mas volta para Barcelona e para a casa de Juan. A química e as cenas entre Juan e Maria Elena estão perfeitas. Sobre a volta da ex esposa, Juan explica para Cristina: “Eu sempre fui a conexão dela com a realidade...” Maria Elena é jocosa, alfinetada, talentosa e franca. E sabe introduzir um debate. No café da manhã, quando questionada por não falar espanhol, Cristina comenta que aprendeu chinês. Maria Elena pergunta: Chinês? Por quê? Cristina responde: “Porque é bonito”. A outra ordena: “Fala algo em chinês!” Cristina fala. Maria Elena pergunta: “E isto é bonito?”.

O filme ganha com a chegada de Maria Elena. Temos três mulheres que, na verdade, deveriam ser aspectos de uma só. A neurose e a racionalidade estão em Vicky. A leveza e a coragem de se fazer o que dá na cabeça em Cristina. E a loucura e a paixão em Maria Elena. As mulheres deveriam ter todas estas características equilibradas. O problema é que temos algumas demais, outros de menos. O que explica sermos tão complicadas, mas também interessantes.

Woody Allen sabe disso. Juan também sabe disso. O pintor não as julga. Deixa que elas sejam quem são sem grandes críticas ou censura. E as admira justamente por estes aspectos. Juan não gosta de ninguém e gosta de todas. Está ali, está aqui. Gosta, principalmente, de mulheres.

Como todo verão, este também acaba. E, de certa forma, Vicky e Cristina encontram o que foram buscar, mas com uma dose extra de latinidade, de loucura e de imprevisto. Vivem situações surreais. Nada mais apropriado, já que estão em terras espanholas. Barcelona é um personagem desta história e não apenas seu cenário, convivemos com sua identidade. Muito provavelmente aquela sobre a qual Vicky estava escrevendo.

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