quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Buscando

 
      Ao assistir “Buscando”, você não verá uma única cena em que a câmera filma diretamente o personagem. Sempre haverá um “mediador” entre ela e o espectador; quer seja a tela de um computador, um aparelho celular ou imagens de uma câmera de segurança. O diretor Aneesh Chaganty sempre nos apresenta o ponto de vista de um personagem ao utilizar um destes aparelhos. Ele realizou com maestria esta obra que nos faz “navegar” pelas diversas possibilidades tecnológicas e redes sociais juntamente com os protagonistas.
     O filme conta a história do viúvo David Kim (John Cho) que, quando sua filha Margot (Michelle La) de 16 anos desaparece, passa a investigar seu paradeiro por meio do computador e redes sociais. Pelas fotos e vídeos armazenados no computador, acompanhamos o crescimento de Margot e passamos a conhecer a vida daquela família na história armazenada nos arquivos; ou nas pesquisas que Pam (Sara Sohn), a mãe, realiza, tais como "Como combater o linfoma em família". A menina cresce naquela tela. e, depois de um tempo , passa a organizar sua própria agenda, a qual consulta pelo computador. Em um certo dia, está marcado: "Mamãe volta para casa." Ela vai adiando este dia; até que exclui o evento... Em seguida, vemos fotos só da menina e do pai. E, não demora, fotos só da menina. Trata-se de uma boa introdução que não só nos ajuda a entender a dinâmica entre pai e filha como o próprio funcionamento do filme. Percebemos que quem dava a liga era a mãe. E, sem ela, pai e filha passam, cada vez mais, a ter uma relação de amor, mas distante. Quando o filme chega ao apresente, assistimos à menina, por meio do Facetime, avisar ao pai que está em um grupo de estudos e vai chegar mais tarde. Depois, aparecem mais chamadas dela para David, mas vemos, pela câmera do computador do quarto, que ele dorme. 
    No dia seguinte, como Margot demora a chegar, david fica preocupado e resolve pesquisar o notebook dela. Começa, então, um thriller de suspense que nos deixa presos à trama. Interessante notar que o pai não conhece os amigos da filha, tampouco possui seus contatos e, por isso, tem que recorrer às redes sociais. Aos poucos, descobre hábitos, atitudes e características de Margot que desconhecia. A menina e não apenas seu desaparecimento tornam-se um mistério a ser desvendado.        Em suas pesquisas, ele pergunta para um conhecido da filha, coisas como: "Mas ela tem amigo, né?", descobre também o tumblr, onde ela postou vídeos bem pessoais e melancólicos. A presença virtual da filha torna-se intensa, mas a real pode não ser mais uma possibilidade... 
    A trama imediatamente nos faz pensar em nossos arquivos, nossas conexões, nosso HD externo. Provavelmente, temos muitas coisas ocupando nossa tela, mas não podemos esquecer que nada disso substitui a conversa franca, o olho no olho. Conhecer nossos filhos é mais que saber o nome da escola e seus horários, mas é acompanhá-los, saber quem são seus amigos, do que eles gostam, onde eles estão. Se não nos atentarmos para isso, corremos risco de nem ter mais arquivos para armazenar e compartilhar.