quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Festim Diabólico (1948)


     O dia 05 de setembro encerrará um programa imperdível para os fãs de cinema em BH: a mostra “Hitchcock é o cinema ”no Cine Humberto Mauro. Todos os 54 filmes do diretor estão sendo exibidos e é outra sensação assistir aos seus filmes na telona.
    Festim Diabólico é uma experiência do diretor em realizar um filme em um único plano-sequência. Ou seja, fazer a montagem com a própria câmera. Para isso, o longa exigiu um grande planejamento com cenários móveis, e marcações perfeitas de cenas. Ele foi todo filmado em ambiente interno, no apartamento de Brandon (John Dall) e Philip (Farley Granger), formado pela entrada, sala de estar e uma parte da sala de jantar e da cozinha. A sala possuía uma ampla janela com Nova York ao fundo. O filme, como a peça de teatro na qual se baseia, desenrola-se de 19:30 às 21:15, quase o mesmo tempo de sua duração. Percebemos o anoitecer pela iluminação através da janela. Trata-se do primeiro filme em cores de Hitchcock. Foram 10 dias de ensaio com a câmera, os atores e a iluminação, antes das filmagens efetivamente começarem.
     A princípio, realmente não percebemos corte de cenas. Mas há pelo menos 08 deles, já que a metragem do filme só durava dez minutos e, para que ele pudesse ser trocado, deveria haver cortes. O que Hitchcock fez foi tornar o corte imperceptível; então, ele encerrava a cena, por exemplo, em um detalhe do terno de um personagem e iniciava a outra no mesmo detalhe. Os filmes do diretor eram muito decupados. Costumavam ter mil planos, sendo que a média para um filme de 100 minutos é de 600 planos. Assim, esta experiência exigiu uma mudança no conceito da própria linguagem cinematográfica para seu realizador.
    Fora esse aspecto, Festim Diabólico tem uma trama envolvente que mantém o interesse do início ao fim. Ela começa com o assassinato de David Kenteley (Dick Hogan) por Brandon e Phillip. Os dois matam seu colega de escola, apenas para provar a si mesmos que podem cometer o crime perfeito. Para desafiar os amigos, a família da vítima, e um antigo e estranho professor, Rupert Cadell (James Stewart), resolvem convidá-los para uma reunião no apartamento e servem a comida em cima de um baú onde está escondido o corpo da vítima. Ao longo da história, pequenas pistas podem levar a alguém mais arguto e conhecedor dos conceitos nos quais Brandon e Phillip se inspiraram a desconfiar de que há algo estranho na ausência de David, que, aliás, também havia sido convidado. Rupert, por defender, teoricamente, a tese de que seres superiores podem cometer homicídios por estarem acima do conceito de moral, aos poucos, chega a conclusão de que seus alunos podem tê-lo levado ao pé da letra demais. Sobre isso, comenta com Brandon: “Você me fez ter vergonha de todos os meus conceitos...”
     Mário Alves Coutinho, crítico e ensaísta, afirma sobre a obra do mestre: “Sem pensar muito, o público é dominado pelo filme”. Hitchcock deu ao conceito de diretor uma outra  nuance.Talvez, tenha sido a primeira vez que se falou em filme de autor. As pessoas iam ao cinema assistir a um filme do Hitchcock. Como hoje vamos assistir a Almodóvar, Tarantino, Woody Alllen. Os autores de cinema não repetem modelos cinematográficos, mas criam-nos e, com isso, reconstroem e inovam a própria linguagem na qual se baseiam.