quinta-feira, 2 de abril de 2015

Para Sempre Alice

Branca Machado – 19/03/2015


“Para sempre Alice” começa com um jantar em comemoração aos 50 anos de Alice Howlands (Juliane Moore). Estão presentes Anna (kate Bosworth), sua filha, Charlie (Shane Mcrae), seu genro, seu filho Tom (Hunter Parrish) e seu Marido John (Alec Baldwin). Ela ainda tem Lydia (Kristen Stewart) que está ausente por que mora em Los Angeles e tenta uma carreira artística. Apesar desse princípio festivo, o filme é tenso, já que, se conhecemos sua sinopse, sabemos o que a personagem está prestes a descobrir. 
No primeiro sinal de que algo pode estar errado com Alice, ela diz ao genro: “Minha irmã e eu éramos muito próximas”. Ocorre que ele não havia perguntado nada relacionado ao assunto e Alice complementa: “Não sei por que eu falei isso...”. Logo em seguida, a personagem viaja para Los Angeles, onde fará uma palestra sobre linguística, tema em que é especializada. Não por acaso ela tem um lapso de memória e não consegue se lembrar justamente da palavra léxico, que pode ser definida como todo o universo de palavras que as pessoas de uma determinada língua têm à sua disposição para expressar-se. Quanto maior for o vocabulário do usuário, maior a possibilidade de escolha da palavra mais adequada ao seu intento expressivo. No evento, ela ainda comenta que as pessoas estão ficando tão especializadas que sabem mais sobre cada vez menos, até saberem nada. O que também não deixa de ser uma alusão ao Alzheimer; no qual, como veremos, a pessoa, cada vez mais, tornar-se-á menos...
Em Los Angeles, Alice aproveita para almoçar com Lydia e, ali, ficamos sabendo que ela não aprova abertamente as escolhas da filha e que deseja que ela faça uma universidade. Ela descobre que o marido está ajudando Lydia com contribuições mensais a uma companhia de teatro e questiona: “Pagar para atuar?”. A filha explica: “É a realidade da situação”. De volta a Nova York, ela questiona o marido sobre o fato de ele estar ajudando a filha. E John afirmará: “Eu te contei isso”. Ela diz: “Não. Não. Não Contou”. E pensamos que, provavelmente, ele contou...
Correndo na universidade em que leciona em Nova York, Alice se perde totalmente. Na cena, só ela está focada. Todo o restante do quadro está desfocado. Alice percebe que algo não está normal e procura um neurologista. Na primeira consulta, só se filma o rosto dela. O médico pergunta, faz testes, mas só vemos Alice. No Natal, ela precisa procurar na internet a receita do pudim que sempre fez e se apresenta 02 vezes para a namorada do filho. Assistimos à evolução da doença mental e fisicamente em Alice. E, cada vez que a constatamos, sentimos um certo pesar. O filme nos traz esta realidade. E, tomara, um pouco de compreensão. Compressão com aqueles que estão próximos e possam vir a passar por isso.  Ao descrever sua experiência com a doença, em uma palestra sobre o Alzheimer, Alice cita “A arte de Perder” de Elizabeth Bishop e conclui: “Eu me encontro aprendendo a arte de perder todos os dias”. Bishop, no poema, pede para que se aceite a perda com austeridade. O pior do Alzheimer é que chega o dia em que nem isso é possível, pois não se sabe mais que está perdendo.