quarta-feira, 1 de março de 2023

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

Em tudo em todo lugar ao mesmo tempo, uma imigrante chinesa nos Estados Unidos parte rumo a uma aventura onde, sozinha, precisará salvar o mundo, explorando outros universos e outras vidas que poderia ter vivido. Contudo, as coisas se complicam quando ela fica presa nessa infinidade de possibilidades sem conseguir retornar para casa.

Logo no início, o filme já mostra a tumultuada vida de Evelyn (Michelle Yeoh) e como ela, apesar de cuidar de tudo praticamente em todo o lugar ao mesmo tempo, parece desconectada. Ela está ali, fazendo tudo; mas no automático. Já não percebe mais o que faz. Só faz. É tensa. Desfocada. O marido pede para conversar algumas vezes, ela nem escuta o pedido. Não à toa, em certo momento, Evelyn escuta a frase: "Não esqueça de respirar".

O filme fala de metaversos. De vários universos paralelos possíveis e simultâneos. Em certo ponto, localizam Evelyn: "Estamos no 4655º Tetraverso." Ela passa por vários ao longo da narrativa. Afinal, como explica Waymond (Ke Huy Quan) cada pequena decisão que a gente toma gera uma ramificação e, assim, um outro metaverso. Soa bem irreal, mas, ao acompanhar a vida da protagonista, pensamos, muitas vezes,  que, na nossa, parece que já estamos vivendo estes diferentes universos. É sufocante. É incômodo e o filme nos causa exatamente estas sensações. Não é uma narrativa fácil. Nem todo mundo vai gostar, mas é uma grande reflexão. 

O longa foi o grande vencedor da 29ª edição do Screen Actors Guild (SAG) Awards deste ano. O filme de Daniel Kwan e Daniel Scheinert venceu quatro dos seis prêmios a que concorria e confirmou seu favoritismo para o Oscar 2023, onde lidera as indicações.

No SAG, ele arrematou Melhor Elenco, Melhor Atriz (Michelle Yeoh), Melhor Atriz Coadjuvante (Jamie Lee Curtis) e Melhor Ator Coadjuvante (Ke Huy Quan). Ele também foi eleito pelo Sindicato de Produtores como Melhor Filme para o Cinema do ano.

O crítico Bruno Carmelo comenta que o filme dialoga com o público mais jovem ao privilegiar uma linguagem mais dinâmica que se assemelha à realidade imposta por aplicativos como o TikTok,  trazendo para o cinema referências a filtros, piadas e memes, comuns à rede social. 

Em meio àqueles diferentes universos, Evelyn afirma para filha: "Isto é loucura!" e a filha responde: "Você está começando a entender". Talvez, este seja o grande recado dos diretores para todos nós: quando a gente parar e questionar nossa constante pressa, as multitarefas e os vários estímulos a que estamos sujeitos atualmente com as redes sociais e a internet, estaremos começando a entender...