quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A Dançarina e o Ladrão

Branca Machado – 19/06/2012






Vera, a professora de dança de Victoria, a bailarina, afirma sobre sua aluna para Angel, o ladrão: “No Teatro Municipal, só vão os cisnes, não as ratazanas.” Angel considera que Victoria só precisa ser descoberta. Sobre ela, afirma: “ É como um cisne que afogou o pescoço em um lago e não consegue levantá-lo.” Seu encantamento pela bailarina é tocante. Mas, desde o início, uma atmosfera trágica paira sobre o filme. Parece uma daquelas peças do balé de repertório com suas tristes histórias que começam bem como Lago dos Cisnes ou A Sílfide.

O ladrão é um personagem que nos encanta, faz rir, mas, ao mesmo tempo e numa dimensão maior, tememos por ele. O tempo todo prevemos que, com aquela simplicidade e inocência , fica muito difícil sobreviver. Ele, que estava preso há 03 anos, explica a Victoria: “Eu estava em um internato. Lá, aprende-se de tudo. Por exemplo: qual o melhor lugar para se enfiar uma faca? Aprende-se anatomia e código penal.”

Angel (Abel Ayala) e o veterano Vergara (Ricardo Darín) foram anistiados após a saída de Augusto Pinochet do poder. Vergara está disposto a abandonar o crime, mas Angel, que não o conhecia, procura “o mestre” para ajudá-lo em um golpe. Vergara sai da prisão bem intencionado mas vários fatos farão com que ele repense sua decisão. Um deles, sua própria fama. Logo na saída, o motorista de táxi que o conduz oferece: “É uma grande honra.... Desculpe a confiança, mas se tiver planejando algo...”. A sua família ( esposa e filho) já parece não ser mais a “sua família”. Fora isso, a persistência de Angel o comoverá.

Já Angel, no primeiro dia fora da prisão, conhece Victoria (Miranda Bodenhofer), uma jovem muda que sonha dançar no Teatro Municipal. Ele, buscará, a sua maneira, realizar o sonho da amada. Realizar o sonho dela passa a ser o sonho dele.

O filme possui aspectos fabulares em Angel e Victoria e alguns mais ligados à realidade no personagem de Vergara. Ela é como uma gata borralheira que um príncipe não lá muito ideal tentará salvar. Vergara não deixa de ser a fada madrinha desta história que, com todos os elementos para o final feliz, está sempre nos indicando o contrário.