quinta-feira, 18 de abril de 2013

O quarteto (2013)


Branca Machado – 08/04/2013




A velhice e o que fazer a partir dela tem sido um tema recorrente tratado recentemente em “E se vivêssemos todos juntos”, “Amor”, e, neste, “O Quarteto” . Por duas vezes no filme, Cissy (Pauline Collins) cita a célebre frase de Bette Davis “ A velhice não é para maricas”. E não é mesmo. Mas ela tem algo tão encantador e delicado  que vale todo o esforço.  E, no primeiro filme dirigido por Dustin Hoffman, o tema aproxima-se de seu belo trabalho como ator em suavidade e delicadeza. 
     No início, assistimos a uma senhora de coque branco sentada ao piano. Ela começa a tocar “La traviata” de Verdi e a câmera acompanha o amanhecer daquele lar. Trata-se de uma casa de repouso para artistas no interior da Inglaterra. Um luxo de construção. O que podemos perceber, além da vivacidade, é que seus moradores são caprichosos e vaidosos. Ali, ouvem-se provocações do tipo: “Eu vi você em “Barbeiro de Sevilha”. Saíram lágrimas dos meus ouvidos”. E  como resposta: “ Vi você em Carmem e nunca me esqueci. E olha que tentei.” 
   Neste dia, chegará  ao lar uma nova moradora: Jean Horton (Maggie Smith), estrela de ópera, considerada uma diva em sua juventude. Ela chega com aquele clássico orgulho britânico tipo “não pertenço a este lugar”  e faz comentários irônicos para a médica que lhe apresenta o local. Quando a primeira mostra “o teleférico” que pode ser utilizado em vez das escadas, Jean ironiza: “Teleférico? E o que eu faço quando chegar ao topo? Desço esquiando?” Mas a estrela começa a se desarmar logo em sua recepção, em uma cena que nos dá uma noção de sua grandeza, já que quem a recebe são também artistas talentosos. 
Reginald Paget (Tom Courtenay), Jean, Wilf Bond (Billy Connolly) e Cissy formam o quarteto que dá nome ao filme. Eles são ex-cantores de ópera que trabalharam juntos em  "Rigoletto", de Verdi. Reggie, Wilf e Cissy tentarão convencer Jean a participar de uma apresentação de um dos números da ópera para levantar os fundos necessários à manutenção da casa de repouso. Jean tem medo de voltar a cantar. Sobre o assunto, ela explica para Reggie, que é também seu ex-marido:  “Não posso ofender a memória de quem já fui”. 
     Ao contrário do que acredita Jean, não há ofensa à memória de nenhum daqueles personagens e, podemos dizer, dos atores que os interpretam. O que há é uma linda homenagem ao que já foram e um belo retrato do que são.