quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Tal mãe, tal filha!


Eu tenho um caderno que uma grande amiga me deu, no qual anoto os filmes a que assisti, dou nota e classifico com estrelas.
A Manu, outro dia, foi assistir "Moana; um mar de aventuras"  e não é que me apareceu com um caderninho, escreveu Moana e colocou as estrelinhas?! 05 porque ela gostou muito!


Manchester à beira mar (2017)

Branca Machado – 22/01/2017

No início de “Manchester à beira mar”, Lee (Casey Affleck) está no barco com o irmão Joe (Kyle Chandler) e o sobrinho Patrick, ainda criança. De forma bem-humorada, Lee quer convencer Patrick de que ele seria a melhor opção para levar para uma ilha deserta. O tio teria mais habilidades para proteger o garoto na ilha.
A cena contrasta com a realidade atual do personagem que vive em Boston e trabalha como zelador. Enquanto Manchester está ensolarada e colorida, Boston está gelada e cheia de neve. A convivência de Lee com os moradores dos prédios que cuida não é fácil. Ele é basicamente calado e não procura agradar. Seu chefe resume: “Você é rude, hostil, não dá bom dia. Recebo reclamações”.
Neste princípio, a câmera acompanha o protagonista. Não há acontecimentos paralelos. Só o passado e o presente dele. As cenas passadas surgem de forma orgânica. Como se ele tivesse lembrando daquilo, enquanto assistimos. Desde o princípio, percebemos que algo muito trágico aconteceu no passado dele. Descobrimos aos poucos o que foi, na medida em que as lembranças voltam mais fortes para o personagem, já que ele tem que voltar à Manchester, devido à morte de seu irmão. Joe nomeou Lee como tutor de Patrick (Lucas Hedges), que está com 16 anos.
Com os flashbacks percebemos claramente quem Lee era e quem ele se tornou. E, por isso, ficamos mais apreensivos sobre o que pode ter acontecido que o transformou em quem ele é. Nas cenas mais fortes, em que notícias ruins ou acontecimentos tristes são mostrados, não escutamos o diálogo. Assistimos de longe, acompanhados de uma trilha instrumental. Tal como Billy Wilder afirmou: “Às vezes, é melhor deixar o público imaginar, não mostrando as coisas. Se um pai volta para casa e vê seu filho atropelado por um carro, em meio a um mar de sangue, é impossível fotografar seu rosto. Filmo sua nuca e o público sente, por si mesmo, mais coisas que o ator pode exprimir. O público deve participar de seu trabalho, não deve permanecer passivo. ”

A cena mais impactante é mesmo aquela que finalmente esclarece a virada na vida de Lee, ao som de Adagio em sol menor para violino, cordas e órgão contínuo, assistimos perplexos ao que aconteceu com o personagem e, finalmente, entendemos suas atitudes, personalidade e silêncio. De qualquer forma, Lee quer o melhor para o sobrinho. Ele e o irmão eram grandes parceiros e Patrick sempre fez parte de sua vida. Ocorre que Lee sabe que o melhor não é ele. Impossível não relembrar da cena inicial em que Lee se acha a melhor opção para acompanhar o garoto em uma ilha deserta. O arco dramático se completa de forma pesarosa. Mas, é isso. A vida não te possibilita sempre as melhores opções. E este filme demonstra esta realidade com muita sensibilidade.