domingo, 3 de junho de 2012

A Separação



"A separação” retrata um problema atual e cada vez mais comum entre os casais: o de cada um querer seguir um caminho e nenhum dos dois abrir mão dele. A primeira cena mostra uma audiência de divórcio iraniana. Logo, constatamos que se trata de uma família moderna para o país, já que Nader (Peyman Moaadi), o marido, concorda em conceder o divórcio à esposa, Simin (Leila Hatami).Ela quer sair do Irã e o visto que conseguiu para a família está expirando. Ele não quer ir para o exterior e deixar o pai (Ali-Asghar Shalbazi), que sofre de Alzheimer. Ambos possuem fortes argumentos para não ceder. Com um claro fundo político, ela diz que prefere que a filha não cresça “naquelas circunstâncias” e o confronta: “Seu pai não sabe que você é filho dele”. Ele conclui: “Mas eu sei que ele é meu pai!”. Um conflito sem um lado certo. Ou com dois lados certos.Em nenhum momento, somos induzidos a escolher um deles.

Nader, sem a esposa e com o pai doente, contrata Razieh (Sareh Bayat), uma religiosa mulher iraniana, para trabalhar em sua casa. Ela está grávida e o marido não sabe que está trabalhando fora. Um incidente envolverá o patrão e a empregada num conflito moral e religioso. Ele foi provocado por várias situações. Uma delas, claro, pela própria separação. Outra, por Nader insistir em ir trabalhar naquele dia. Ou ainda por que o marido de Razieh estava desempregado e preso por dever dinheiro.

O filme é entremeado de detalhes que dão profundidade aos personagens, como quando a empregada conta a Nader que seu pai havia urinado nas calças e ele comenta com uma expressão chateada: “Ele sempre pedia para ir ao banheiro...”. Ou, nesse mesmo episódio, antes de limpar o idoso, a empregada liga para um serviço de consulta religiosa e questiona se seria pecado se ela o trocasse. Em outro momento, Nader pede que a filha Termeh (Sarina Farhadi) peça a gorjeta de volta ao funcionário do posto. Ele a observa pelo retrovisor do carro e vemos o orgulho estampado no seu rosto. São particularidades que nós acompanhamos e os outros personagens, não. O diretor Asghar Farhadi amplia nosso contexto para que não seja fácil tomar partido na história.

"Eu sabia que ela estava grávida, mas não naquele momento”. Esta é a resposta que Nader dá para a sua filha quando ela o confronta sobre se ele realmente não sabia sobre a gravidez da empregada. Num momento de cólera, de forte emoção, ele poderia muito bem ter esquecido isso. Entendemos Nader. Uma série de situações levaram ao acontecido. É possível que as coisas chegassem naquele ponto. Ninguém é mal de fato. Cada um com suas qualidades, defeitos e, principalmente, razões. “A separação” é um filme muito próximo.