terça-feira, 4 de agosto de 2020

Em Pedaços

Em Pedaços é um filme independente alemão que ganhou o Globo de Ouro de 2018 de melhor filme estrangeiro e deu à Diane Krueger o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes. Ela faz o papel de Katja Sekerci que vive em Hamburgo com o marido, o turco Nuri Sekerci (Numan Acar)  e o filho Rocco. Certo dia,  o marido e o menino estão no escritório e morrem vítimas de uma explosão criminosa, tragédia que deixa Katja completamente arrasada.
Dividido em três "pedaços" - Família, Justiça e Mar - o filme  estabelece seu arco dramático  a partir do momento em que  Nuri e Rocco morrem vítimas de um atentado à bomba até pouco depois dos julgamento dos prováveis culpados. Digo prováveis porque eles foram inocentados. Conforme afirma o juiz em sua sentença " os réus foram absolvidos não porque parecem ser inocentes, mas porque as provas apresentadas deixam dúvidas". Nossa sensação, como espectador, é de revolta. Talvez, porque vimos coisas que os julgadores não viram. E temos a certeza que falta a eles. Agora, imaginem a sensação de Katja... O filme dá um close em seu rosto e desfoca todo o resto. E a sensação dela deve ser de desfoque mesmo... Pela história, sabemos que o que a mantém de pé é este julgamento.
No filme, há alguns flashbacks de filmes caseiros realizados pelos personagens em seu cotidiano. Vemos que a personagem principal casou-se com  Nuri, enquanto ele cumpria pena em uma prisão. Depois, descobrimos que ela o conheceu durante a faculdade, na qual ela comprava drogas dele. Mas Nuri foi solto e se reabilitou. Ele e Katja eram uma casal  apaixonado com um passado controverso e que queria viver bem. Ao que tudo indica, a chegada de Rocco trouxe uma mudança para melhor na vida dos dois. Mas este passado ainda cobra seu preço...Por diversas vezes, ela recebe reprovações ou insuniações de que as coisas poderiam ser diferentes se eles não tivessem vivido da forma que viveram.
A história pregressa de Niri é sempre associada à possível causa do atentado e a defesa dos réus usa este mesmo passado para desacreditar o testemunho de Katja durante o julgamento. Muitas vezes, sentimos que o casal está sendo julgado em vez de serem as vítimas da situação. 
Mas a verdade é que Niri morreu por sua origem não germânica e seu filho por ser filho dele... O atentado foi realizado por neonazistas. Simples assim. Percebemos, neste drama, como fazer justiça é difícil; como o in dubio pro reu é para o bem, mas também pode ser muito ruim; como o modo como levamos a vida pode influenciar uma decisão que deveria ser simples; e sobre como, às vezes, querer ser justo demais acaba nos tornando injustos. Outra questão derivada é sobre o quid pro quo: pagar na mesma moeda é justiça? São questões levantadas, bastante atuais e incômodas, e que precisam ser tratadas.