sexta-feira, 3 de junho de 2022

Mães Paralelas

 

        Mães paralelas é o filme mais recente de Pedro Almodóvar e conta a história de duas mulheres que engravidam no mesmo período e se conhecem na maternidade no dia do parto de suas filhas. 

No início da trama, acompanhamos Janis (Penélope Cruz), uma fotógrafa com carreira consolidada, de 40 anos, solteira, sem filhos. Logo, no início, ela fotografa um famoso antropólogo, Arturo (Israel Elejalde). A partir deste encontro, os dois estabelecem um contato profissional que, rapidamente, evolui para um caso. O filme já mostra Arturo no apartamento de Janis e o diretor realiza um corte seco entre a primeira vez em que ele e a fotógrafa fazem amor por trás de uma cortina para Janis na maternidade em trabalho de parto. A vida da personagem, então, cruza-se com a de Ana (Milena Smit) no dia do nascimento das filhas de ambas e, aí sim, a trama começa a acompanhar as narrativas paralelas das personagens. A partir daquele momento, acompanhamos as mães paralelas. Até que, um dia, a vida delas acabará se cruzando de forma definitiva. 

Nas cenas da maternidade, descobrimos que ambas são mães solteiras, mas com disposições opostas em relação à situação. Janis comenta que não se arrepende da gravidez. E Ana rebate: "Eu, sim". Ana é menor de idade, vem de uma família disfuncional; sua mãe, Tereza (Aitana Sánchez-Gijón), está atrás de sucesso na carreira e seu pai Alex vive em Granada com outra família. 

Depois do nascimento de Cecília, filha de Janis, o filme realiza flashbacks para entendermos como foi o desenvolvimento da gravidez e do relacionamento entre o casal. Arturo bate à porta de Janis, e, ao abrir, assistimos a ela contar para ele que está grávida. Voltamos ao Arturo na porta  e, agora, Janis abre novamente para que ele conheça a filha. São passagens sutis que formam rimas com imagens.

Portas se fecham, portas se abrem, mas o fato é que Janis chegou ali solteira. Assim como Ana. Janis, decidida. Ana, assustada. A maternidade muda as duas de forma fundamental. E podemos dizer que, por força das circunstâncias, ao longo da trama, Janis torna-se a assustada e Ana amadurece na mesma proporção. 

Com roteiro e direção de Almódovar, observamos as características marcantes do diretor na história como protagonistas femininas fortes, a maternidade sempre transformadora e a cenografia composta de cores primárias. Algumas composições de cenas são verdadeiros textos como a que Janis, após descobrir uma verdade dura, abraça a filha e a cena escurece aos poucos, deixando ela e a criança por último no enquadramento; ou uma outra, na qual Janis e Ana entram em quadro simultaneamente por meio de portas paralelas.

Almodóvar foi condescendente e empático com as personagens e o o conflito causado pelo encontro entre as duas. Ele parece dizer "Entendo suas decisões. Vocês são humanas. Vocês são mães". Nós entendemos também. O filme trata da amizade. Da força do amor materno. De se colocar no lugar do outro. Aquelas vidas nunca mais serão paralelas. Bom para elas.