quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A luz entre os oceanos

Branca Moura Machado

No início de “A Luz entre os Oceanos”, ouvimos o som do mar e assistimos a Tom Sherbourne (Michael Fassbender) assumir um novo emprego. O fundo sonoro já nos indica seu futuro profissional. E a breve entrevista serve para contextualizar a plateia das dificuldades de sua nova atividade. Ele ficará totalmente solitário por períodos de 03 ou mais meses para cuidar de um farol na Ilha de Janus, na Austrália. Estará a serviço da marinha britânica. Descobrimos também que Tom é solteiro, veterano da Primeira Guerra, e que, a princípio, seu serviço será temporário; já que seu empregador prefere um funcionário que tenha uma família. O personagem explica por que quer trabalhar no Farol: “Só estou querendo fugir das coisas por um tempo.” E o oficial enfatiza: “Aquela ilha não é fácil... Você será o único ser vivo a 160 km em todas as direções.” A partir daí, acompanharemos sua rotina na ilha e o grau de isolamento em que ele vive. Apesar da solidão, Tom se adapta com tranquilidade: “06 meses não são nada. Se não ficar esperando algo acontecer.”.
Durante um retorno do personagem ao continente, ele conhece Isabel (Alicia Vikander) e de forma natural e delicada surge uma paixão entre eles. Aprendemos a gostar do casal. A torcer por eles. E, por isso, lamentamos o fato de eles não conseguirem ter filhos. Não por acaso, compreendemos a decisão dos dois ao assumir como deles um bebê que aparece num barco. Mas a vida não é tão simples ... O grande conflito da história surge quando se descobre que este bebê tem uma mãe que o procura. Torcemos pelo casal; torcemos pela mãe. Não há vilões. Só personagens que querem muito amar e criar uma criança. Mas não dá para fingir que não se sabe. E Tom não quer conviver com mais um dilema moral, além dos que adquiriu na Guerra. Foi justamente por isso que ele escolheu viver em Janus: “Aqui, eu sou responsável apenas pela luz. Não tenho ninguém para machucar.”. Ironicamente, foi ali que ele encontrou  seu maior dilema. Michael Fassbender interpreta o protagonista em todas as suas camadas. A plateia o compreende pelo olhar. Reconhecemos seu sofrimento e, sobretudo, entendemos suas decisões.

O filme trata de amor, de perdão, de perdas, de maternidade e de solidão. A partir do momento em que nascemos, coisas acontecem e mudanças são inevitáveis; mesmo quando se vive numa ilha. O mar traz, o mar leva e temos que nos adaptar. Isabel em certo momento relata a Tom que perdeu seus dois irmãos na guerra e reflete: “Quando você perde os filhos, você não fica viúva, como quando perde um marido, você permanece mãe ou pai, mas os filhos se foram.”. E este, talvez, seja o grande consolo de Isabel. Apesar de tudo, ela permanece mãe.