terça-feira, 30 de agosto de 2016

Julieta

         Branca Moura Machado - 29/08/2016

       No início de “Julieta”, a protagonista (Adriana Ugarte, quando Jovem; Emma Suárez, já mais velha) prepara sua mudança para Portugal. Ela afirma a Lorenzo (Dario Grandinetti), seu namorado, que não pretende voltar à Madri, se puder. Ela quer se desfazer do vínculo que a aprisionou por 20 anos: a busca por sua filha Antia (Priscilla Delgado/Blanca Parés). 
 Sua filha, ao completar 18 anos, viajou para um retiro espiritual e não voltou. Antia não deixou rastro. Durante anos, a vida de Julieta foi tentar reencontrá-la. Conforme Lorenzo a descreve, quando a vê pela primeira vez: “Que mulher tão linda e abatida...”
Com essa premissa, Almodóvar reconstrói a história da protagonista para entendermos como e por que a relação dela com a filha se deteriorou a este ponto.  O roteiro é baseado em três contos da autora canadense Alice Munro,  vencedora do Nobel de Literatura em 2013. A princípio, o filme ia se chamar “Silêncio” que é o nome de um dos contos. O termo seria mais apropriado, já que o maior problema nas relações dos personagens é o não dito.
Mãe e filha sofrem em silêncio desde que Xoan (Daniel Grao), pai de Antia, morreu, quando a menina tinha 11 anos. A perda distanciou as duas de forma irremediável, mas a mãe, distraída pela própria dor, não percebeu. Para poupar a filha, Julieta optou pelo silêncio e, com isso, a perdeu. Conforme afirma para uma amiga: “Cada um tem o que merece. Queria que ela crescesse sem culpa. Mas ela percebeu... a culpa a atingiu como um vírus.”
Ao acompanharmos Julieta em sua busca, acompanhamos também sua redenção. Ela passeia por toda sua história para entender melhor onde está e, quem sabe, finalmente expiar sua culpa. Um aspecto interessante do filme é que não se reflete sobre Julieta somente como mãe e esposa, mas também como filha. Em certo momento, seu pai (Joaquin Notario) pede a ela: “Filha, seja mais generosa, compreensiva comigo.”. Por sua vez, esta compreensão foi algo que ela também não obteve de Antia.
  O filme é esteticamente irrepreensível. As cores fortes, primárias, características do diretor, estão lá, mas com uso invertido. Na fase mais feliz da vida de Julieta, ela usa predominantemente, o azul. E, na fase melancólica, está presente o vermelho. Sobre essa utilização, Almodóvar declarou que precisava da cor no filme. Como o tema é muito sombrio, “sem a intensidade e a luminosidade da cor para balancear, poderia ficar insuportável.”
Julieta é uma mulher que passou por duas enormes perdas. E vive com o peso de que, talvez, pudesse evitá-las. Mas, se pensarmos mais profundamente sobre o assunto, a vida é assim. A nossa reação em determinado momento pode provocar toda uma cadeia de acontecimentos. Escolher ficar em silêncio, quando podemos falar, é uma delas. Somos sobretudo humanos e não podemos nos condenar por isso.

domingo, 21 de agosto de 2016

segunda-feira, 1 de agosto de 2016


O "Assista-me" completou 10 anos! Em agosto de 2006, fiz meu primeiro comentário no informativo do meu trabalho. O filme foi "Tristão e Isolda".

http://machadobranca01.blogspot.com.br/2009/10/tristao-e-isolda.html?m=1