quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O Artista





Antes de mais nada, “O Artista” é uma grande homenagem ao cinema. Como “Cantando na chuva” e “Crepúsculo dos Deuses”, ele trabalha com a metalinguagem para nos contar a história da transição do cinema mudo para o falado e de como artistas de grande sucesso ficaram para trás nesse caminho. A diferença é que “O Artista” é um filme mudo. E, claro, pela própria lógica da evolução cinematográfica, preto e branco.

O filme tem início em 1927, na estreia de mais um filme de George Valentim (Jean Dujardin), grande astro do cinema mudo. Mais um tremendo sucesso. George, no auge de sua glória, agradece com vaidade. Na saída do teatro, Peppy Miller (Bérénice Bejo), uma aspirante a atriz, pede o autógrafo de seu ídolo. Seus caminhos se cruzarão durante toda a estória e, de certa forma, seus papéis se trocarão. Não por acaso, 1927 foi o ano de lançamento de “O cantor de Jazz”, o primeiro filme falado do cinema. Mais alguns anos e tudo mudará na dinâmica dessa indústria.

Em1929, o estúdio em que Valentim trabalha já não produzirá filmes mudos. Enquanto isso, George afirma que ninguém gostará das produções sonoras. Mais tarde, ele sonha que coloca um copo na penteadeira e ouve seu vidro, batendo na madeira. Ele começa a perceber o som das coisas, a sonoplastia, como é que tudo tem som: o vento nas plantas, o riso das pessoas. E, principalmente no cinema, uma pena chegando ao chão pode ter o som de uma bomba explodindo.

E é exatamente como uma bomba que o som atinge a carreira de Valentim. Ele não quer mudar. Tudo o que construiu está no cinema mudo. Enquanto isso, a evolução da carreira de Peppy Miller é demonstrada por uma sucessão de letreiros de filmes nos quais a atriz trabalhou. Seu nome vai subindo de posição e ela já não faz mais “a garota”, mas a “Mrs. X”. Até que seu nome é apresentado sozinho. Peppy sobe. George desce. Na cena em que eles se encontram no estúdio, ela está acima dele na escada, claramente, numa posição de ascensão

Sem falar nada, o diretor Michel Hazanavicius   nos disse tudo. E assim é, muitas vezes, durante o filme. Quando George lança o longa que insistiu em produzir em tempos de cinema falado, o filme dentro do filme reflete a história de “O Artista”. O herói afunda na areia movediça. A heroína não pode salvá-lo. Quando Peppy observa Valentim atravessando a rua após uma ocasião particularmente triste, há, ao fundo, um teatro que anuncia “Estrela Solitária”. Naquele momento, tal descrição serve tanto para ele, quanto para ela.

“O Artista” não é saudosista. Essa evolução é natural e adaptar-se,  sinal de amadurecimento. Com o som, vieram os musicais. E esta é a cereja do bolo deste filme encantador.