quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Deus da Carnificina


Branca Machado – 18/02/2012
        "O inferno pode ser uma sala de estar confortável e um casal insatisfeito", escreveu Edward Albee sobre sua peça "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?. Podemos tirar esta mesma conclusão sobre  Deus da Carnificina de Roman Polanski.
         Também baseado em um peça de teatro, a ação do filme  desenrola-se na sala de estar de Penelope (Jodie Foster) e Michael (John C.Reily). Zachary, filho de Nancy (Kate Winslet) e Alan (Christoph Waltz) bateu em Ethan,  filho de Pen e Michael e, por isso, os casais resolveram se encontrar e resolver  a questão da forma mais cordata possível.
        Ao longo do filme, este encontro será desconstruído e, ao final, cada uma daquelas pessoas estará totalmente exposta. Polanski, a cada cena, tira camadas das  personalidades dos quatro personagens, E, aos poucos, eles revelam quem realmente são e o que verdadeiramente pensam. Uma verdadeira carnificina. O processo é devastador , mas absolutamente factível. 
        Pelos comentários iniciais, já percebemos que há uma tênue camada pronta a se quebrar naquela camaradagem aparente. Os pais de Zachary vão assinar um termo em que assumem que o filho agrediu Ethan. Leves rachaduras surgem no diálogo Há uma discussão sobre o uso das palavras “armado” ou “munido” com um bastão a respeito do modo como a agressão se deu. Depois, Penelope ainda comenta : “Que ironia! Sempre achei o Brooklyn Bridge Park tão seguro...”. As leves indiretas evoluem e Pen numa “distração” afirma que Zachary desfigurou o colega. Nancy não gosta: “Desfigurou?!”. Alan  também chama a atenção de que Pen fala “deveria” demais. 
        Ao longa daquela situação, a luz muda, o céu por trás da janela também. Entardece. A discussão adquire profundidade e chega ao subsolo. Os casais se unem para agredir ao outro e, depois, separam-se para agredirem-se mutuamente, até perceberem como são ridículos individualmente. Sem camadas, podemos ser muito feios. “ Estes personagens, atacando-se de um modo muitas vezes cruel, expõem também um lado comovente, apresentando-se, ao final, não como hienas com instintos predadores, mas sim como seres humanos com fragilidades, ilusões desfeitas e mágoas profundas.”. Este comentário é sobre a peça “Quem tem medo de Virginia Woolf?”, mas, novamente, é perfeito  para Deus da Carnificina.