terça-feira, 26 de novembro de 2013

Capitão Phillips


Branca Machado – 17/11/2013


     Capitão Phillips começa em 28/03/2009 e mostra papéis sobre uma mesa, uma carteira de marinheiro mercante, um computador e Richard Phillips (Tom Hanks) arrumando e juntando alguns deles. Capitão de um navio cargueiro, ele sairá para uma nova missão na Costa da Somália. Sobre este novo trabalho, sua esposa comenta enquanto o leva ao aeroporto: “Essas viagens deveriam ficar mais fáceis. Mas parece o oposto...”. No caminho, ainda conversam sobre os filhos e Phillips comenta a mudança do mundo e afirma: “Só sobrevive quem é forte.” Neste momento, ele resume o que será sua trajetória nos próximos dias.
     Depois de conhecermos a casa, a esposa e a confortável e harmônica vida familiar do capitão, o diretor Paul Greengrass nos confronta com a vida de pescadores somalis dormindo no chão em barracos empoeirados e sendo acordados por chefes de gangue cobrando os lucros da pirataria: “Vocês deviam estar no mar, ganhando dinheiro!”. Enquanto Muse (Barkhad Abdi) seleciona sua tripulação entre africanos magros e mal tratados como se escolhesse um time para uma pelada, assistimos ao capitão chegar ao grande navio em que irá embarcar justamente para levar comida e água mineral aos africanos necessitados.
     Nessa sutil construção paralela, percebemos o quanto as vidas de Phillips, capitão do navio, e de Muse, líder dos piratas, são diferentes. Na verdade, nem parece que vivem no mesmo mundo. Mas eles irão se cruzar. E o grande navio americano será subjugado pela pequena lancha de destemidos e ousados somalis que não têm nada a perder. O filme faz questão de enfatizar que o navio vai desprotegido pela Baía da Somália onde, se sabia, havia pirataria. Inclusive o capitão lê um e-mail sobre o assunto: Alerta de pirataria na costa da Somália - audácia e operacionalidade aumentam. Sentimos a preocupação de Phillips. Ele esperava, mas não estava preparado.
     Além da ação e suspense que nos deixam ligados e tensos do início ao fim, o embate entre esses dois homens é muito interessante e triste, pois ambos, de alguma forma, são vítimas. Este confronto é muito bem anunciado em uma cena que mostra um e outro se encarando pelo binóculo. Em certo momento, Muse comenta com Phillips, depois de saber o que o navio carrega: “Os países ricos adoram ajudar os somalis, depois que levaram todo nosso peixe”. E Phillips pondera: “Há outras maneiras de sobreviver, além da pesca.” E Muse conclui: “Talvez na America, Capitão.” Em outro momento, Muse conta para Phillips que, no ano anterior, sequestrou um navio grego de 6 milhões e o capitão questiona: “E o que você faz aqui?
     Nesse trabalho de Muse, ele nunca lucra. Mas, de certa forma, ganha poder. Pelo menos, naquele momento. Quando ele entra no navio afirma: “Relaxa e ninguém sai machucado. Não somos a Al Qaeda. São só negócios.” Talvez, este seja o maior problema. Os piratas não têm uma causa e, principalmente, nada a perder. Não comem. Praticamente não tomam água. Mastigam Khat. E não têm basicamente motivo para voltar. Já, como percebemos no início do filme, Phillips possui todas as razões para lutar por sua vida. Trata-se do confronto entre um ataque inconsequente e uma defesa comprometida.