sexta-feira, 2 de julho de 2021

A Escavação

 


A Escavação é um filme da Netflix baseado numa história real sobre o período em que a viúva Edith Pretty (Carey Mulligan) contratou o escavador Basil Brown (Ralph Fiennes) para desvendar os tesouros que existiam sob seu terreno na propriedade de Sutton Hoo, próxima de Suffolk, no Reino Unido. 

Impossível, para um cinéfilo, assistir a um filme sobre arqueologia e não se lembrar da famosa série Indiana Jones. Por meio de "A Escavação", conhecemos um lado deste ofício, sempre fascinante, sem o glamour e a constante ação de Indiana. A diferença de ritmo entre eles já fica clara na música tema que, neste, é incidental e bastante discreta. A semelhança entre o Basil Brown de Fiennes e o Indiana de Harrison Ford termina no fato de que ambos tinham pais também arqueólogos. Indiana era um brilhante professor universitário, charmoso e quase um super-herói; Basil, autodidata, negligenciado e idealista que afirmava que seu trabalho não era sobre o passado, nem sobre o presente, mas sobre o futuro:  " É para que as gerações saibam de onde vieram. É mais que a guerra que está por vir." 

Fato é que a arqueologia, necessita de técnica, paciência, metodologia e insistência. Durante o filme, acompanhamos o trabalho braçal e cuidadoso que envolve uma escavação à procura da história enterrada por milhares de anos. Você tem que escavar, mas com muito cuidado, conhecer o solo, a mudança de cor que identifica o local em que pode encontrar algum artefato. Se ali pode ter alguma coisa, então, deve-se ter um cuidado e técnica ainda maiores ao escavar. Se chove, deve-se cobrir tudo com lona, uma retirada errada de uma peça encontrada e ela pode se desfazer na sua mão. 

Ao mesmo tempo em que assistimos à esta investigação, descobrimos mais sobre a vida dos nossos personagens.  A escavação inicia-se em 1938, pouco antes da 2ª Guerra Mundial. Com a Guerra, todo o trabalho ali realizado seria suspenso e, por isso, não é à toa, que, durante a escavação, os personagens conviviam com aviões militares britânicos que sobrevoavam o local. Em contraponto ao trabalho metódico e lento, havia a ameaça da guerra os assombrando e cada vez mais próxima.

O fato é que a equipe descobriu muito mais do que, incialmente procurava. E fizeram o que é hoje considerada a maior descoberta arqueológica do século 20.  O que havia sob o solo era um navio funerário de 1,4 mil anos de idade, da época em que a Grã-Bretanha era habitada pelos anglo-saxões. Segundo artigo de Carolina Fioratti, na revista Super Interessante, a descoberta foi revolucionária, e chegou a ser chamada de “Tutancâmon britânico” – uma referência à tumba do famoso rei egípcio, achada em 1923. "Afinal, os pesquisadores consideravam até então que os anglo-saxões um povo atrasado e pouco desenvolvido. A ideia caiu por terra após a chegada das evidências descobertas por Basil Brown. Os artefatos, atribuídos ao Império Bizantino e ao Oriente Médio, remetem a uma sociedade que admirava a arte e possuía ambições comerciais."

O arco dramático do filme se encerra, quando, após assistirmos todo o esforço da escavação e o brilhantismo da descoberta, vemos novamente o navio ser enterrado. Irônico. Cruel. Necessário. Mas o bom é que a verdade, uma vez escavada, saiu de lá e muda a história para sempre.