terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Álbum de família


Branca Machado – 14/02/2014

    “A vida é muito longa.” Esta é a primeira fase que ouvimos em “Álbum de família”.  Beverly (Sam Shepard) cita a frase para Johna, a empregada que está contratando, e comenta que muita gente acha isso, mas que T. S Eliot foi o primeiro que se deu ao trabalho de escrever.  Em seguida, ele resume seu casamento com Violet (Meryl Streep): "Ela toma pílulas e eu bebo”. Não veremos mais Bev durante o filme. Este prólogo esclarece seu estado de espírito e rima com a conclusão do longa na qual a mesma Johna aparecerá como o único conforto para outro personagem. 
     Para os membros da família de Bev, a vida deve parecer enorme.Depois do prólogo, vem a música de abertura e o telefone toca na casa de Bárbara (Julia Roberts) que deitada na sua cama, ordena à filha (Abigail Breslin): “Se for seu pai, mande-o à merda.” É  Ivy, irmã de  Barb, de Oklahoma, para avisá-la de que o pai (Beverly) estava desaparecido.  Bárbara tem problemas com o marido. Numa lógica perversa, parece que a infelicidade daquela família passa de geração para geração.  Em casa, após seu reencontro com a mãe, Bárbara, por meio de comentários, demonstra que seu estado de espírito está bem parecido com o de Violet ou Bev: “Sorte que nós não prevemos o futuro. Jamais sairíamos da cama.” Barbara é a única que está a altura da mãe na ferocidade da língua. Karen (Juliette Lewis) e Ivy (Julianne Nicholson), suas irmãs, bem como o restante da família não dão conta do recado.
     Violet fala para Ivy coisas do tipo: “Seus ombros estão caídos, seu cabelo está esticado, você não usa maquiagem; parece uma lésbica.” E, para Karen: “As mulheres não ficam atraentes quando mais velhas, ficam feias, e você é uma prova disso, Karen”.De certa forma, o filme lembra “Closer”, pois, naquela reunião familiar, o limite do íntimo é ultrapassado e invadido. Lembra ainda “Deus da Carnificina” por também ser baseado em uma peça de teatro, por seu humor negro e pela evolução das agressões entre os personagens.
     Em certo momento,  Barbara confronta a filha e afirma para Bill (Ewan McGregor), seu marido: “Ela é velha o bastante para ter caráter. Isso vem dos pais.” E olha para ele significativamente. Barb é dura com a filha. Violet foi dura com ela. E a mãe dela foi pior ainda. Na história sórdida que Violet conta para as filhas sobre sua mãe, uma delas questiona: “Este não é o fim da história, é?”  Parece mais o começo. E parece ser cíclico.
    O problema da culpa é o que permeia todo o filme. Não por que as pessoas se sentem culpadas ou responsáveis por si mesmas, mas sim, por acusarem os outros o tempo todo por suas grosserias, defeitos e infelicidade. E, nesse caso, não há melhor conclusão que a do Tio Charles quando confronta a esposa e afirma: “Não sei por que as pessoas não respeitam as outras. Não há desculpas para isso.” Não há mesmo. Se procurarmos, sempre é possível encontrar algo para justificar um defeito nosso. É muito fácil ser vítima. Apontar o dedo. Mas não é bonito e muito menos resolve alguma coisa.