sexta-feira, 8 de julho de 2016

Truman


Branca Machado – 02/05/2016

Truman é mais um filme argentino que traz um toque original e tocante em sua narrativa. Assistimos à história de Julian (Ricardo Darín) que, após um ano de tratamento contra um câncer, descobre que não houve remissão e, muito menos, haverá cura, e assim desiste de se tratar e decide viver com qualidade o tempo que lhe resta. Neste prazo, ele procura um novo dono para seu cachorro, Truman. Tomás (Javier Cámara), seu grande amigo de infância e juventude, vem do Canadá passar 04 dias com ele e, com isso, vai ajudá-lo nessa empreitada.
Na verdade, Tomás não viaja só para rever e, talvez, despedir-se do grande amigo, mas, também, para tentar convencê-lo a insistir no tratamento e, quem sabe, conseguir um pouco mais de sobrevida. Tomás representa a maioria de nós que temos certa dificuldade em entender essa escolha. No primeiro diálogo entre os amigos, Julian toca no assunto: “Você não veio para me convencer de nada, né?” Tomás afirma Vim para te ver, Julian”. Mas, logo que a conversa continua, ele começa a questionar a decisão do amigo e Julian o interrompe decidido: - “Leve de volta, o Whisky, os desenhos! Não...O whisky não.” A decisão de Julian é racional e esclarecida. Mas nada fácil de ser tomada. Assim, ter que refletir sobre ela é um processo doloroso.
Julian quer escolher alguém para ficar com Truman, seu cachorro e comenta: “Ainda não contei para ele...Tomás questiona: “Para quem?” Julian: “Truman...”. Os amigos vão juntos ao veterinário que responde a Julian que Truman pode ter problemas digestivos, psicossomáticos e irritabilidade na sua ausência. Ao sair da clínica, Julian comenta que o que importa de verdade são as relações. O amor. E reflete: “O que você me ensinou durante todo esse tempo? A não pedir nada em troca. Você nunca cobra.”. Tomás continuará assim. E, no filme, quase literalmente. “E eu?” Julian pergunta a Tomás. O amigo finge não entender: “Você? Você, o quê?” Julian: “O que eu te ensinei?” Tomás, então, responde: “Nada. Absolutamente nada. Bebida. Coisas ilegais, talvez.”. Ele ri e continua: “A ser corajoso. Sempre encarou tudo.” Este diálogo resume bem a dinâmica entre os amigos.
Julian é separado e tem 01 filho que estuda na Holanda. Além disso, tem uma prima Paula (Dolores Fonzi) que não aceita de maneira alguma sua decisão:”Não sabia que precisava de argumento para seguir a vida.” Paula se revolta, inclusive com Tomás, por não confrontar o amigo como deveria. Neste tempo que Tomás passa com Julian, percebemos que ele não está mais tão certo sobre qual seria a decisão mais acertada. Se é que existe uma...
O tema é difícil e assumir abertamente que não se quer mais o tratamento é uma decisão madura e polêmica. Além da doença, você tem que enfrentar a reação de pessoas queridas. Os reflexos da morte não estão só naquele que vai morrer, mas em todos que, de alguma forma, compartilham daquela vida. Conviver com Julian, ajuda-nos a entender seu ponto de vista. Ele gosta da vida, mas dessa que ele leva. Não a que ele terá depois de um tratamento ainda mais invasivo. É uma decisão justa. É a decisão dele.