Branca Machado – 02/05/2016
Truman
é mais um filme argentino que traz um toque original e tocante em
sua narrativa. Assistimos à história de Julian (Ricardo Darín)
que, após um ano de tratamento contra um câncer, descobre que não
houve remissão e, muito menos, haverá cura, e assim desiste de se
tratar e decide viver com qualidade o tempo que lhe resta. Neste
prazo, ele procura um novo dono para seu cachorro, Truman. Tomás
(Javier Cámara), seu grande amigo de infância e juventude, vem do
Canadá passar 04 dias com ele e, com isso, vai ajudá-lo nessa
empreitada.
Na
verdade, Tomás não viaja só
para rever e, talvez, despedir-se do grande amigo, mas, também,
para tentar convencê-lo a
insistir no tratamento e, quem sabe,
conseguir um pouco mais
de sobrevida.
Tomás representa
a maioria de nós que temos certa dificuldade em entender essa
escolha. No primeiro diálogo entre os
amigos, Julian
toca no assunto: “Você não veio para
me convencer de nada, né?” Tomás
afirma “Vim para te ver,
Julian”. Mas, logo que a conversa continua, ele começa a
questionar a decisão do amigo e Julian o interrompe decidido: -
“Leve de volta, o Whisky, os desenhos!
Não...O whisky não.” A decisão de Julian é
racional e esclarecida. Mas nada fácil de ser tomada. Assim, ter que
refletir sobre ela é um processo doloroso.
Julian
quer escolher alguém para ficar com Truman, seu cachorro e comenta:
“Ainda não contei para ele...”Tomás
questiona: “Para
quem?” Julian: “Truman...”.
Os amigos vão
juntos ao veterinário que responde a Julian que Truman
pode ter problemas digestivos, psicossomáticos e
irritabilidade na sua ausência.
Ao sair da
clínica, Julian comenta que o que
importa de verdade são as relações. O amor. E reflete: “O que
você me ensinou durante todo esse tempo? A não pedir nada em troca.
Você nunca cobra.”. Tomás continuará assim. E, no filme,
quase literalmente. “E eu?” Julian pergunta a Tomás. O
amigo finge não entender: “Você? Você, o
quê?” Julian: “O que eu te ensinei?”
Tomás, então, responde: “Nada. Absolutamente nada.
Bebida. Coisas ilegais, talvez.”. Ele ri e continua: “A
ser corajoso. Sempre encarou tudo.” Este
diálogo resume bem a dinâmica entre os amigos.
Julian
é separado e tem 01 filho que estuda na Holanda. Além disso, tem
uma prima Paula (Dolores Fonzi) que não aceita de maneira alguma sua
decisão:”Não sabia que precisava de argumento para seguir a
vida.” Paula se revolta, inclusive com Tomás, por não
confrontar o amigo como deveria. Neste tempo que Tomás passa com
Julian, percebemos que ele não está mais tão certo sobre qual
seria a decisão mais acertada. Se é que existe uma...
O
tema é difícil e assumir abertamente que não se quer mais o
tratamento é uma decisão madura e polêmica. Além da doença, você
tem que enfrentar a reação de pessoas queridas. Os reflexos da
morte não estão só naquele que vai morrer, mas em todos que, de
alguma forma, compartilham daquela vida. Conviver com Julian,
ajuda-nos a entender seu ponto de vista. Ele gosta da vida, mas dessa
que ele leva. Não a que ele terá depois de um tratamento ainda mais
invasivo. É uma decisão justa. É a decisão dele.
Se o filme for tão bom quanto sua resenha, Branca... Já coloquei na fila!
ResponderExcluirObrigada, Eloiza! Espero que você goste!
ExcluirÉ um tema muito rico. Vou assistir ...
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