terça-feira, 6 de novembro de 2018

Nasce uma estrela

         "Nasce uma estrela" vai te impressionar de alguma forma. Após alguns dias, você vai se pegar pensando nele ou refletindo sobre algum tema abordado na história.  Seja a beleza das relações humanas, o diferencial da autoestima, a importância da base familiar; o efeito nocivo do vício; de alguma maneira, aquilo vai te tocar.
A obra é a quarta versão do filme de William A. Wellman, lançado em 1937.  A versão atual, dirigida e estrelada por Bradley Cooper, possui um aspecto documental que traz veracidade às cenas e nos aproxima dos personagens.
Ela inicia-se com um show de rock. Antes da imagem aparecer, já escutamos o público vibrando, Jack Maine (Bradley Cooper) está na beira da coxia e toma alguns comprimidos juntamente com o resto do seu whisky. Ele volta ao centro do palco e apresenta a última música. Os fãs o adoram, mas ele parece meio distante daquilo. O cantor tem os cabelos oleosos, o rosto inchado e cansado. Logo, entra no carro, pega uma garrafa, que já estava ali, e pede para o motorista levá-lo a algum bar. Enquanto isso, em outro canto da cidade,  Ally (Lady Gaga) trabalha em um restaurante. Após o expediente, vai se apresentar em um pub. Em uma cena icônica, ela sobe o beco, ao sair do restaurante,  e surge um letreiro vintage : A Star is born (Nasce uma estrela).
Não por acaso, Jack acaba entrando no bar em que Ally se apresenta. Ela surge cantando "La vie en Rose" e ele fica hipnotizado. Ao esperá-la sair do camarim, ele canta  "talvez seja  a hora  de mudar os velhos hábitos"; um tema apropriado por já notarmos seus "costumes"  e por perceber que, talvez, aquele encontro possa ser seu ponto de virada. Quando os dois conversam, são filmados de forma bem próxima. O interesse de um pelo outro é enfatizado pela câmera. Eles se conhecem naquela noite. Em determinado momento,  quando estão sentados no meio fio, Ally começa a cantar para ele: "Você não está cansado de preencher este vazio?" Ela se empolga, levanta e continua cantar. Ele olha, admirado, mas, de forma premonitária, continua sentado.
A trilha sonora é de extrema importância para o filme. Com trilha sonora original, é interessante assistir aos personagens compondo. É da emoção que surgem as músicas. Para Jack, este é o diferencial - ter algo a dizer que os outros queiram ouvir.  E ele vê em Ally esta capacidade. Nossa admiração é a admiração de Jack e nossa emoção é a emoção de Allly.
O cantor está sempre bêbado. Bradley Cooper enfatiza este fato com pequenos detalhes no modo de andar, de não se equilibrar,  e a maneira de  falar. Ally se preocupa, mas, ao mesmo tempo se encanta. E, dividida entre a apreensão e o encantamento, segue com Jack, ao mesmo tempo em que cria suas asas. Ele  proporciona a autoestima e a segurança que ela precisa, mas segue o caminho inverso...
Mudar velhos hábitos não é fácil. Precisa-se de confiança. E, quando você pára de acreditar, a ideia da mudança deixa de ser uma possibilidade e passa a te assombrar. Com uma cena final emocionante, o filme vai ficar na sua lembrança; ou, pelo menos, no seu playlist.