domingo, 6 de março de 2016

Macbeth


Branca Machado – 22/01/2016

       De certa forma, a frase “Dia tão feio e belo assim nunca vi...” declarada por Macbeth (Michael Fassbender), após vencer uma árdua batalha, serve para descrever o filme aqui comentado. Belíssimo a cada quadro, com cenas esteticamente perfeitas, ele não nos permite um momento de respiro. É tudo sempre tenso, atormentado; feio. O crime e o castigo são latentes. E não à toa, utiliza-se o vermelho sangue como cor predominante. 
        Macbeth e sua Lady (Marion Cotillard) são torturados pela ambição, pelos seus atos e pelo medo da traição. Passada na Escócia, século XI, a história já se inicia com o enterro de uma criança. O menino é cremado. Trata-se do filho do casal de protagonistas. A expiação dos dois personagens só evoluirá durante o filme, apesar de, pouco a pouco, eles conseguirem tudo que almejam. 
        Dirigida pelo australiano Justin Kurzel, esta versão da peça de Shakespeare demonstra bastante respeito à obra original, inclusive na linguagem utilizada nos diálogos. Em certo momento, Lady Macbeth questiona o marido: “Duncan (o rei) chega hoje? E quando parte?” E Macbeth responde “Pela manhã.” E sua esposa conclui: “Mas o sol jamais verá tal manhã”. Ela tem grande influência sobre o marido e, ao questionar sua masculinidade, acaba persuadindo-o a cometer o ato que ele tanto temia: “Ouvi! Silêncio! É o pio da coruja, sentinela fatal que augura a mais sinistra noite. Vai dar o golpe; a porta se acha aberta; o ressonar dos guardas embriagados zomba do ofício deles. Pus mistura na bebida de todos, de tal forma que a morte e a natureza neles lutam sobre se vão morrer ou ficar vivos.” Macbeth segue torturado:  “Será que todo o oceano do Rei Netuno seria capaz de limpar minhas mãos?” Ela novamente entra em cena: “As minhas mãos estão da cor das suas mãos”. É ela que controla a situação e consegue, então, o reino para o marido.         
        Shakespeare se baseou nos relatos dos reis Duff e Duncan nas Crônicas da Inglaterra, Escócia e Irlanda, de 1587, para escrever sua história. Em nenhuma outra versão, o rei é morto na casa de Macbeth. Acredita-se que Shakespeare acrescentou esta mudança para aumentar a crueldade do ato do protagonista ao macular sua hospitalidade. Talvez, com a mesma intenção, o diretor optou por mostrar o assassinato no filme; cena que é ocultada na peça. 
        Em determinado momento, Macbeth reflete: “De que vale ser Rei se não se tem segurança?” E decide matar mais dois personagens que podem interferir em seu caminho: “Minha paz por eles”. O mais curioso e aflitivo na trama é essa necessidade que os personagens tem de cometerem os atos mais grotescos,  justificando-os de forma a mostrar que eram necessários para o seu bem. Um bem que nunca vem. Pois, quanto mais se faz, mais se alimenta a neurose e menos se tem paz.