quarta-feira, 11 de maio de 2016

Garota Dinamarquesa

Branca Machado – 07/03/2016

Baseado no livro de David Ebershoff e dirigido por Tom Hooper, "A Garota Dinamarquesa" conta a história de Einar Wegener (Eddie Redmayne) e Gerda Wegener (Alicia Vikander); ou, de preferência, Lili Elbe (Eddie Redmayne)  e Gerda Wegener. No início, somos introduzidos ao casal de pintores que, até então, mantinham um casamento feliz. Mas, aos poucos, passamos a notar certas tendências e preferências de Einar que nos soam estranhas. Como, quando ele caminha pelo centro de artes e acaricia o figurino das bailarinas nos cabides do camarim como se quisesse vesti-los. Ou, no momento em que ele comenta que a camisola de esposa é bonita; ela, então, diz que pode lhe emprestar e ele responde que pode gostar. 
Quando Gerda questiona ao marido o motivo pelo qual ele não quer ir ao baile dos artistas, a resposta dele apresenta a premissa do filme: “É como se eu interpretasse a mim mesmo.” Neste momento, temos a noção de que, como Einar, ele se sente um personagem. Então, ele vai de Lili. E não está mais interpretando. O baile desencadeia todo seu desejo adormecido, além de um  tormentoso conflito entre qual seria a sua verdadeira natureza, algo como o médico e o monstro. Só que, no caso do médico, ele crê que bem e mal convivam dentro de cada pessoa. No caso de Einar, cada vez mais, só cabia Lili. É interessante observar sua autêntica decepção, quando percebe que determinado admirador sempre soube que Lili era homem. Neste momento, fica clara a diferença entre um transexual e um homossexual.
Enquanto Einar se liberta, Gerda sofre com a transformação do marido, e, nesta incerteza, seus quadros ficam melhores. Muitas vezes, é Lili quem posa para ela. A princípio, Einar será submetido a diversos tratamentos para combater esta “perversão”, Mas, conforme ele mesmo diz: “Não adianta mais. Quando eu sonho, são os sonhos da Lili”.
 Ao pintar um cliente, Gerda comenta que é difícil para o homem ser observado por uma mulher. Para a mulher, não. Ela está acostumada a ser observada. O desejo de Einar nada mais é que o de ser olhado como uma mulher.O filme tem muitos momentos em que ele as observa, admira; ensaia. Ele quer se tornar uma em todas as suas minúcias.  Para isso, tornou-se pioneiro na cirurgia de mudança de sexo. Antes da intervenção, Hans (Matthias Schoenaerts), amigo de infância do pintor, diz para ele: “Eu não gosto de muita gente na vida. Você foi duas delas.” Ao longo do filme, passamos a torcer para que Einar finalmente se torne apenas uma.