quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

José e Pilar

“Há um José antes e outro depois de Pilar”. Ao assistirmos ao tocante documentário de Miguel Gonçalves Mendes, constatamos que esta é mais profunda verdade. O cineasta acompanhou Saramago no processo de criação de seu último livro “A Viagem do Elefante”. Paralelamente, seguiu a vida incessante do casal José e Pilar entre diversos compromissos e viagens a Espanha, Brasil, México, Finlândia e Portugal. Nessa empreitada, descobriu uma relação de respeito mútuo, amor, diálogo; de todas as formas, invejável. Pilar é uma mulher forte que ajudou a difundir a obra do marido pelo mundo. Como ela afirma, sua vida era uma  declaração de amor a José. Saramago no dia a dia não nos decepciona soltando frases aqui e ali que mereciam ser escritas. Como o comentário sobre a performance de um cantor: “ Um momento que nos permite pensar que a morte não existe”; ou a linda conclusão a respeito da esposa: “Se eu não tivesse conhecido a Pilar, eu seria muito mais velho do que sou”.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Tropa de Elite 2

Da mesma forma que o Pantaleão, personagem criado pelo escritor Mario Vargas Llosa; o Capitão Nascimento (Wagner Moura), de Tropa de Elite 2, considera que "missão dada, parceiro, é missão cumprida". Tais personagens têm o mérito e, paradoxalmente, a sina de, a partir do momento em que se comprometem a cumprir determinada função, irem até o fim. São fascinantes neste sentido. Por isso, é empolgante assistir ao Capitão travar uma luta com tudo que vai contra a sua missão, mesmo que sozinho e fazendo inimigos importantes. Como a revista Veja definiu, Nascimento é o novo herói brasileiro. E "Tropa de Elite 2", nosso mais novo "arrasa quarteirão".Bem filmado, bem produzido, com grandes atuações. Desta vez, os traficantes são o menor dos problemas, já que o Capitão, agora Sub Secretário de Inteligência, intimida o tráfico, mas, com isso, sem perceber, fortalece as milícias, formadas por policiais e apoiadas por políticos corruptos. E, quando o mal se esconde por trás do bem, a estratégia de combate também se torna mais nebulosa.O inimigo agora é realmente outro. Muito pior e mais difícil de vencer...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O pequeno Nicolau

O Pequeno Nicolau (2010)


Branca Machado – 26/10/2010

Numa sala de aula, os alunos, de uns 07 anos, discutem a história “O Pequeno Polegar”. Para eles, o pai do personagem abandonou as crianças na floresta por que estava pobre, já que tinha muitos filhos. De repente, Joaquim, atrasado, entra na sala. A professora parabeniza o aluno que acabou de ganhar um irmãozinho. Esta virou a grande novidade da classe. Só se falava nisso. Joaquim está arrasado. É um horror ter um irmãozinho: "não pode gritar, tem que dividir o quarto, os brinquedos..." Nicolau (Maxime Godart), intrigado, procura saber como Joaquim descobriu que ia ganhar um irmãozinho e o amigo responde: "Meu pai estava bizarro. Ele estava bonzinho com minha mãe”. Nicolau, então, começa a observar os pais e, logo, conclui que ele também terá um irmãozinho.

Dirigido por Laurent Tirard, o filme é uma comédia infantil, cheia daquele humor inocente dos quadrinhos que costumávamos ler quando éramos pequenos. E não é por acaso, já que é baseado nas histórias infantis de René Goscinny de Le Petit Nicolas. Nicolau é uma criança que vive uma infância tranquila e feliz e não quer nenhuma mudança, principalmente, a concorrência de um irmão. A trama é bem amarrada e nos faz compreender as associações precipitadas do garoto.

Quando, no dia seguinte à notícia, Joaquim falta à escola, Nicolau, influenciado pela sua interpretação de O Pequeno Polegar, supõe que os pais do amigo deram sumiço nele para dar lugar ao irmão. E o pior é que, neste dia, seu próprio pai o convida para um passeio na floresta... Para completar, ele escuta o pai planejando um jantar para seu patrão e ouve a seguinte parte do diálogo: "O que vamos fazer com o Nicolau? Ele não vai poder ficar. Faz muita bagunça." Pronto! A confusão está armada.

Nicolau, apavorado, resolve formar uma liga secreta com seus amigos para salvá-lo. A primeira estratégia da liga é fazer com que Nicolau agrade os pais para eles desistirem de sumir com o filho, mas, como tudo o que ele faz só piora as coisas em casa, eles concluem que a saída será sumir com o bebê. Impossível, para mim, não lembrar dos planos infalíveis do Cebolinha para pegar o colelhinho da Mônica.

Somos enviados a um mundo infantil que já não é mais tão comum... Não há televisão, muito menos videogames, ou computador. A diversão é na rua, com a turma. As crianças têm menos informação, então, imaginam mais. A infância é mais pura. Nicolau, ao final, decidiu o que queria fazer quando crescesse: “Vou fazer as pessoas rirem”. Se depender do filme, já conseguiu.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Indie 2010

Pessoal,

 Desculpem-me por não ter atualizado o blog com a programação de filmes para BH neste início de setembro. Mas é que, de 02 a 09 de setembro, está ocorrendo em Belo Horizonte o Indie 2010, um festival de cinema independente que acontece na cidade desde 2001. São 119 filmes, de 19 países diferentes em 06 salas de cinema.
Não há como indicar um filme, já que, em sua maioria, são inéditos, mas é bom salientar que, muitas vezes, esta é a única oportunidade de assisti-los. Então, posso indicar o site, bem atrasada, da programação do festival, pelo menos para vocês saberem o que passou por aqui: http://www.indiefestival.com.br/indie2010/about.php.
Também posso ajudar com uma dica. Se vocês forem arriscar a pegar uma sessão nesses dois últimos dias, a entrada é franca e começa a ser distribuída meia hora antes do filme. Então, cheguem uns 45 minutos antes para poderem entrar na fila. Trata-se de uma fila interessante na qual você costuma encontrar pessoas que assistiram a praticamente todos os filmes do festival e, se não pudemos assisti-los, pelo menos ficamos sabendo a impressão destes cinéfilos.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Tudo Pode Dar Certo

Branca Machado – 10/08/2010



Com título original “Whatever Works”, o filme “Tudo pode dar certo” teria melhor tradução se seu título fosse “O que funcionar.” Ou ainda, “O que der certo, ótimo”. Boris Yellnikoff (Larry David), o protagonista, um sujeito mal-humorado, cético, super sincero e cuja “prioridade nunca foi o charme” acaba nos dando uma lição de vida, ao nos dizer para deixar as coisas acontecerem. Em seu monólogo inicial, ele quebra a quarta parede e se dirige diretamente a nós, aconselhando: “Chega de “poderia ter" ou "deveria ter", contente-se com o que der certo”.

A partir daí, acompanharemos a trajetória do personagem, que, apesar de ter tentado o suicídio duas vezes (“obviamente, não funcionou”), nos explicará por que “se dá ao trabalho de viver”.O filme retrocede ao seu primeiro casamento. Para ele, a união não deu certo por que tudo se encaixava, combinava demais. E ele conclui para então esposa : “Na teoria, somos o ideal. Mas a vida não é o ideal.”

Boris é um físico nuclear aposentado que quase foi indicado ao Prêmio Nobel. Considera-se um gênio. Depois da separação, ele passou a dar aulas de xadrez para crianças e, ao ser questionado por uma mãe do motivo pelo qual ele havia jogado um tabuleiro de xadrez em seu filho, ele simplesmente responde: “Porque seu filho é um imbecil”. Ela rebate: “Meu filho é brilhante!” Ele conclui: “Na sua opinião”. Este é Boris. Um gênio que não faz a menor questão de agradar.

Depois de sermos apresentados apropriadamente ao personagem, conhecemos Melody Celestine (Evan Rachel Wood), uma jovem que, vinda do sul, encontra o protagonista na porta de seu apartamento em Chinatown e, após um breve diálogo, pede para morar com ele. Melody é inocente, doce e simplesmente considera todas as teorias de Boris grandes verdades, apesar de não entendê-las completamente. Ela pergunta: “Em que você é gênio?” Ele responde: “Em mecânica quântica”. E ela: “Tá. Mas em que campo? Filmes?” Ela também repete coisas do tipo: “Devia ter pena capital para aqueles que chamam mãe de mamãe e para os que não recolhem fezes de cachorro nas ruas”.

Trata-se de um casal inusitado. Sobre Melody, Boris reflete: “O que posso oferecer? Mau humor, pânico e misantropia? É tão absurdo que não dá para pensar! É tudo contra” Em uma perfeita rima com o diálogo que teve com a primeira esposa no qual dizia que o problema deles é que era tudo a favor. Ele acaba por concluir que o fator casualidade na vida é impressionante. E cede aos encantos de Melody. Um ano de casado e não foi o pior ano da vida dele...

Como nos principais filmes de Woody Allen, o grande trunfo de “Tudo pode dar Certo” são os diálogos inteligentes, as teses inusitadas, a síntese; a forma como ele faz graça com a vida e diz grandes verdades de forma leve e eficiente. O personagem principal é um suicida, mal humorado e manco e saímos do filme mais leves do que entramos! Está aí, novamente, o improvável. Boris, ao final, comenta: “Há pessoas lá fora nos assistindo. Não sei quantos restaram.” Estão todos lá, Woody.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A jovem Rainha Vitória

Branca Machado – 13/07/2010

      Os contos de fadas possuem lindas histórias de amor entre príncipes e princesas, perfeitas, mas, como muito se diz por aí, “só existem em contos de fadas”... Na vida real e, com real, podemos entender Realeza, os casamentos estavam mais para negociações, acordos estratégicos, onde o amor e a atração não eram incluídos na equação. Assim, é com prazer que assistimos ao surgimento do amor entre a Rainha Vitória e o Príncipe Albert em “A jovem rainha Vitória”.
     Todos consideram que a trama é sobre Vitória , seu amadurecimento,  do momento em que se tornou rainha até seu casamento com Albert. Mas eu vi um filme sobre conquista. O que me chamou atenção foi o fato de que ele se apaixonou de imediato e, então, a conquistou.
      Claro, que tudo começou com um jogo de interesses, o Rei Leopold, da Bélgica, deu instruções diretas para que seu sobrinho Albert conhecesse e conquistasse Vitória. Ele esclarece ao sobrinho:   “ A Inglaterra é a chave para a paz na Europa.” Ocorre que Albert se apaixonou por ela e sua interessante personalidade logo que a conheceu. E partiu para a verdadeira conquista. Numa partida de xadrez, ela pergunta: “Você já se sentiu uma peça de xadrez movida contra sua vontade?” Ele responde: “Se você se sente assim, é melhor dominar as regras do jogo para poder jogar melhor que eles”. Ela completa: “É melhor ter alguém que jogue para mim.” Ele conclui: “O melhor é que você tenha alguém que jogue com você e não para você”. Albert se revela ao longo da história e cada faceta dele a conquista um pouco mais. Entendemos por que ela o escolhe. Concordamos com ela. De acordo com as regras da Corte, ela deveria pedi-lo em casamento, mas em uma de suas visitas, Albert não deixou de fazê-lo da maneira que podia: “Vitoria, eu gostaria muito de lhe ser útil, se você me der a oportunidade”. Naquele momento, ela respondeu: “Não será preciso...Ainda.” Aos poucos, Albert se fez preciso. E conquistou a Rainha como um verdadeiro príncipe.  

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Mary e Max, uma amizade diferente

Mary e Max, uma amizade diferente (2010)



Branca Machado – 09/06/2010



O filme Mary e Max não possui momentos emocionantes, é emocionante. Trata-se de uma animação que conta a história de amizade entre uma garota australiana, chamada Mary, e Max, um americano obeso de 44 anos. Como no excelente “Nunca te vi, sempre te amei”, esta amizade se dá por meio de cartas. Mary, então com 08 anos de idade, não tem amigos e, com pais ausentes, resolve escrever para um americano qualquer, selecionado por seu indicador no catálogo do correio. Ela vai escrever para perguntar de onde vêm os bebês nos E.U.A, já que, na Austrália, como seu avô havia lhe dito, os bebês vêm do fundo de um copo de cerveja.

Os dois são fanáticos por um desenho animado chamado Nobblets. Mary por que eles são marrons e possuem muitos amigos. Max por que eles vivem numa sociedade organizada e articulada e... possuem muitos amigos. Apenas com estes pequenos comentários dos personagens, podemos perceber algumas complexidades em suas personalidades. Mary tem olhos cor de lama e uma marca de nascença “cor de cocô”. Ela se sente mal por possuir estas características, os Nobblets são apreciados e são marrons. Ponto para eles (e para Mary). Max, além de possuir dificuldade para se expressar, acha o mundo caótico e desorganizado, então, a sociedade dos Nobblets torna-se seu ideal de organização. Fora isso, ambos são extremamente solitários, então, admiram aqueles que têm muito amigos. Talvez, os Nobblets provoquem neles o efeito de identificação e encantamento que muitos filmes provocam no espectador.

Logo, as cartas farão a diferença na vida dos dois personagens. As cartas de Mary, por vezes, fazem Max ter crises de ansiedade, já que o confrontam com assuntos que normalmente ele evita. Entre outras coisas, ela pergunta se alguma vez ele foi provocado; ou, se ele sabe o que é o amor. As cartas de Max fazem Mary tornar-se mais autoconfiante e, de certa forma, funcionam como conselhos de “pais”. Acompanhamos os comentários que um faz de si mesmo para o outro e passamos a conhecê-los. Para Max, “flertar era tão exótico quanto fazer cooper”. Ele frequenta os comedores compulsivos anônimos, pesa 160 kg e mede 1,90. A mãe de Mary dizia que seu nascimento tinha sido um acidente e que ela seria balofa quando crescesse. Mary achava que balofa “era um tipo de vaca”.

Os dois são sofridos e solitários e isto não muda com as cartas. Mas, na medida em que a vida dos protagonistas evolui, elas representam um alívio, uma companhia e uma certa forma de amor. Assim, eles fazem a diferença na vida um do outro, o que os torna únicos e importantes. Como todos somos.



PS: O filme resgata um costume apenas parcialmente substituído pelo email. A espera por uma carta, as frequentes visitas à caixa de correio, os PS, PSS, PSSS sempre tão usados quando já havíamos concluído e, de repente, tínhamos que acrescentar mais algumas observações. Posso ser saudosista, mas sinto falta de trocar cartas.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Dois filmes bons

Este ano, assisti a dois lançamentos de diretores consagrados: "Ilha do Medo" de Martin Scorsese e "O Escritor Fantasma" de Roman Polanski. Os dois chegaram discretos e parecem não estar fazendo o sucesso que merecem. São produções filmadas com maestria:  imagens lindas, enquadramentos perfeitos e grandes interpretações. Cinema de primeira.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Um Homem Sério

Em certo momento de "Um homem Sério", Lawrence Gopnik (Michael Sthulbarg) recebe um telefonema sobre uma cobrança de uma assinatura que ele teria feito. Ele argumenta: "Mas eu não posso estar devendo. Eu não fiz nada". E seu interlocutor responde: "Exatamente. Quando não se faz nada, é porque se aceitou a assinatura." De certa forma, este diálogo resume toda a situação do personagem. Lawrence é um homem sério, só faz o que é certo e, de repente, sua vida está repleta de problemas dos mais variados. Como a dívida da assinatura que ele não fez, tais problemas só aumentam. O protagonista passa, então, a questionar: "Por que comigo? Afinal, eu nunca fiz nada!" Será que há realmente um motivo para que certas coisas aconteçam com a gente? Perdemos tanto tempo pensando nas causas e, na maioria das vezes, elas são gratuitas e, principalmente, aleatórias. Imagino que os irmãos Cohen, diretores do filme, queiram mostrar o quanto esta busca é inócua.Um filme que diverte mas, principalmente, faz pensar.

domingo, 25 de abril de 2010

O Segredo dos seus olhos

Branca Machado – 10/04/2010

Os olhos falam. Por meio deles, mistérios são resolvidos e amores declarados em “O segredo dos seus olhos”. Humor, mistério, amor e drama estão bem equilibrados nesta trama policial que utiliza com eficiência as diversas possibilidades da linguagem cinematográfica.

Alternando passado e presente, o diretor Juan José Campanella constrói belas rimas como a do “a” que falta à máquina de escrever e à palavra “TE MO” que Benjamim Esposito (Ricardo Darín) anota em um bloco numa madrugada qualquer e com a qual Irene (Soledad Villamil) mais tarde o confronta: “O que você teme?” . Na verdade, a pergunta deveria ser o que ele ama e a resposta ... Trata-se também do “a” que faz a diferença na frase dita pela promotora certa vez a Benjamim: “Não sei se há a justiça, mas há uma justiça”.

“Em 21/06/1974, Ricardo Morales e Liliana colotto, casados há 01 ano, acordaram, planejaram suas férias, ela fez chá com limão para ele, pois ele estava tossindo e saíram para trabalhar”. Este pode ser o início do livro que Benjamim, agora aposentado, escreve sobre um crime no qual trabalhou há 25 anos. Liliana Colloto
 foi violentada e assassinada naquela manhã e ele foi designado para acompanhar a investigação do caso.

O policial procura Irene, sua chefe em 1974, para que ela o ajude na redação do romance. Ele explica o motivo de sua visita: “Quero escrever sobre o caso Morales.” Ela, então, entrega a ele aquela antiga máquina de escrever do escritório que não bate a letra “a” e esclarece: “dois dinossauros se entendem”. Benjamim é um personagem interessante, envolvente; gostamos de acompanhá-lo. E, como outros personagens que se interessam por ele, afligimo-nos por ele se ater tanto ao passado. Várias vezes chamam a atenção dele por isso. Irene, com uma afirmação, enfatiza essa diferença entre os dois: “Minha vida inteira foi olhar para frente. Para trás, não é minha jurisdição.” E, talvez, a explicação para este apego de Benjamim seja mesmo a própria Irene. Tal como Pablo, seu amigo e colega de trabalho, afirma: “As pessoas podem mudar de tudo. Casa, família, religião, mas não podem mudar de paixão”. Benjamim deixou a sua no passado.

Pablo Sandoval (Guillermo Francella), o amigo alcóolatra, comove sempre que aparece e é também divertido. Ele é aquela pessoa que podia ser brilhante, podia ter uma vida em família feliz, mas infelizmente sua paixão o corrompe. E, como já dito, dela, a gente não se livra.

Alterna-se presente/passado com a simples caracterização e aparência dos personagens. Nesta alternância, montamos a história de vida daquelas pessoas. Lamentamos e torcemos por eles. Não é só a trama policial que nos envolve, mas tudo o que aconteceu aos personagens naqueles 25 anos. E é com satisfação que vemos a porta do escritório de Irene ser fechada. Ao fechar-se, ela finalmente dá a Benjamim um futuro.

As melhores coisas do mundo

Em "As melhores coisas do mundo", Mano, o protagonista, chega à conclusão de que não é impossível encontrar a felicidade na vida adulta, só que é mais complicado.  O problema do universo adolescente de Mano é que  ele ainda  viveu pouco, então espera muito e tem pressa. Mas, na medida em que sua vida começa a mostrar que praticamente nada ocorre como o esperado, ele aprende a olhar as coisas de outro modo e aceitar o que é fato. Em seu amadurecimento, ele deixa de perguntar "por quê comigo?" e começa a pensar "já que é comigo, vou encarar."

sábado, 17 de abril de 2010

Soul Kitchen

Saí para assistir "Vidas que se cruzam". Por problemas no cinema do shopping, acabei assistindo "Soul Kitchen" no Savassi Cineclube. Apesar de não ter visto o primeiro, foi uma troca prazerosa, já que Soul Kitchen é o filme ideal para um sábado à noite: leve, engraçado, despretensioso. Além disso, ouvimos boa música. Foi interessante conviver com um personagem tão diferente de mim. Zinos, o dono do restaurante que dá nome ao filme, está cheio de problemas e é capaz de sair para dançar como se não fosse com ele. Ele é desorganizado, desleixado e não tem nenhum tipo de planejamento gerencial. Aliás, nem mesmo cozinha bem! É sempre bom lembrar que não precisamos levar tudo tão a sério. Teve uma hora que fiquei com vontade de entrar no restaurante e passar o resto da minha noite de sábado lá.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Guerra ao Terror

Branca Moura Machado, 15/03/2010

O cineasta Eric Rohmer afirmou que “Todo bom filme é também um documentário sobre sua época.” Este é o caso de Guerra ao Terror que retrata com maestria o ambiente de uma guerra diferente. Um conflito urbano, no qual o inimigo pode ser qualquer um e não apenas um soldado com uniforme diverso.
Dirigido por Kathryn Bigelow, vencedora do Oscar 2010, o filme foi rodado em estilo semi-documental, a câmera é um integrante da cena. Acompanhamos as missões de Will James (Jeremy Renner), um soldado especialista em desarmar bombas. O personagem é complexo, cheio de nuances. E, ao acompanhá-lo, compreendemos perfeitamente a frase inicial do filme: “A emoção da batalha pode ser um vício poderoso e letal porque a guerra é uma droga.” Neste quesito, a cena de James, já de volta aos Estados Unidos, em frente à estante de cereais no supermercado é emblemática. Ali, ele está perdido. Ali, não sabe o que fazer. Ele não sabe escolher cereais, mas é especialista em desarmar bombas e é nessa atividade que encontra conforto.
Na primeira missão de James e sua equipe no Iraque, a placa atrás do veículo de guerra americano é enfatizada: “Fique 100 metros atrás ou atiramos.” Só ela já dimensiona o tipo de tensão do conflito.Não há um campo de batalha ou um front, mas uma tensão constante, onde uma bomba pode estar escondida no porta-malas de um carro ou no corpo de um civil.
A dinâmica da equipe é a seguinte: enquanto o especialista desarma a bomba meticulosamente, os soldados que o protegem devem olhar para todos os lados e prever todas as possibilidades de ataque. É sempre tenso.Em um certo momento, o coronel pergunta a James: “Qual o melhor jeito de se fazer estas coisas?” E o soldado responde: “O jeito de não morrer, senhor.”
Outra cena que representa bem a dinâmica desta guerra é o duelo entre atiradores de elite no deserto.As horas passam, os lados se observam, a boca seca, o sol queima e um observa o outro para conseguir o tiro certeiro. Não há tiroteio contínuo, mas quando se atira, normalmente, acerta-se. Um tiro, uma morte.
No filme, acompanhamos a contagem regressiva daquela equipe em sua missão no Iraque. Cada dia é um dia a menos naquela guerra. Cada dia é um dia a mais de risco de morte ou de testemunhar a morte de um colega.Só Will parece não contar o tempo que lhe resta no Iraque. Já nos Estados Unidos, ele reflete, ao brincar com o filho: “Aproveite enquanto você ama tudo; seus brinquedos, seu quarto. Quando você crescer, algumas coisas que você ama não serão tão especiais. As coisas que você ama vão diminuir para 01 ou 02. Eu penso que a minha é só uma”. A próxima cena é de Will de volta ao Iraque: CIA Delta. Dias faltantes: 365.

terça-feira, 2 de março de 2010

Amor sem Escalas (Up in the air)

Branca Moura Machado, 02/03/2010



“O que vocês carregam na mochila?”. Este é o tema da palestra de Ryan Bingham (George Clooney) em Amor sem Escalas. Ele propõe um exercício: “Comecem pelas coisas que vocês têm em casa, nas prateleiras e gavetas... Está ficando pesado não está? Agora, pensem nos relacionamentos... A alça está se desfazendo? Acordar de manhã sem nada... É excitante, não é?” Para Ryan, mover-se é viver. E bagagem, incluindo lembranças e pessoas para quem voltar, um peso a mais.
A cena inicial focaliza o rosto de várias pessoas sendo demitidas e suas reações. Para muitos, ser demitido causa “o mesmo estresse que uma morte na família”. Um deles pergunta para o interlocutor do outro lado da mesa: “Que merda é você?” Ele, então, dirige-se ao espectador em off : “Que merda eu sou?”. Finalmente, aparece Ryan do outro lado da mesa: “Para me conhecer, voe comigo. É aqui que eu vivo.”
A partir daí, assistimos a uma eficiente montagem na qual o protagonista surge, arrumando a mala, fazendo o check in e passando pelo detector de metais com extrema habilidade. Ele não tem dificuldades em aeroportos, nada o pega de surpresa. Ali, é sua área. Ryan é um consultor que passa a vida viajando para demitir pessoas cujos chefes não têm a coragem de fazê-lo. No ano anterior, ele viajou por 322 dias. O que, para ele, significa que passou 43 miseráveis dias em casa.
A dinâmica de Ryan é abalada quando Natalie Kreemer (Anna Kendrick) é contratada para reestruturar a empresa. Ela apresenta um novo conceito, o “Glocal”: Global - Local. A ideia é cortar os custos, realizando demissões por videoconferência. Ryan, claro, detesta a inovação.
A discussão entre Natalie e o protagonista sobre essa reestruturação sinaliza a dinâmica entre os dois no restante do filme. Ele a testa, pede para ela fingir que vai demiti-lo. Na simulação, levanta e diz que vai falar com seu chefe, ela tenta ir atrás; ele conclui: “não pode fazer isto pelo vídeo!”. Natalie tem muito que aprender com a experiência de Ryan. Então, sai em viagem com ele. Ao longo dessa convivência, a personagem faz algo importante com o protagonista: ela o questiona.
Ao mesmo tempo, Ryan conhece Alex (Vera Farmiga) no bar de um hotel, em uma de suas viagens. Conversam sobre empresas de aluguéis de carros, competem sobre quantas milhas acumulam por ano: Ela, 06 mil milhas. Ele, “não quer se vangloriar...”. Os dois são muito parecidos e iniciam um romance pontual. Se coincide de trabalharem numa mesma cidade em um mesmo período, encontram-se. A convivência entre Natalie, Ryan e Alex irá transformá-lo de uma forma inesperada.
É interessante observar os três personagens juntos. Eles são inteligentes, perspicazes. E fazem de seus diálogos uma espécie de jogo. Como quando Ryan questiona Natalie: “Ele terminou com você por um torpedo?” E acrescenta, sarcástico: “É a mesma coisa de demitir alguém pelo vídeo!”. Ou, quando Natalie fala para Alex: “Você é tão linda. É exatamente como eu quero ser daqui a 15 anos!”. Ou ainda, quando Alex questiona Ryan: “Sr. Mochila Vazia, você odeia as pessoas ou a bagagem que vem com elas?”.
Assistimos a um personagem tão afeito às suas teorias ser confrontado, obrigado a refletir. A experiência serve para todos nós que muitas vezes nos agarramos tanto a um princípio ou modo de ser que não percebemos o quanto ele nos obriga a viver de um jeito só. Acordar de manhã com opções é mais excitante ainda.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Preciosa

Nossa, ontem fui assistir ao "Preciosa". Como é triste... Chorei bastante. Mas não por que o diretor constrói todo um contexto para que a emoção venha, mas por que o contexto não precisa ser construído. A vida de Preciosa é aquela. Pronto. A meu ver, trata-se de uma história sobre o poder destrutivo da ignorância. Preciosa está terminando o primeiro grau e não sabe que D + I + A formam a palavra "dia". E, por não saber, não é capaz de perceber o  tamanho da crueldade de sua mãe. Para ela, a truculência sempre foi uma resposta normal. É bonito assistir às  transformações da protagonista e a sua redentora reação por meio da sua escrita e do desenvolvimento da sua capacidade de refletir. No caso do filme, não é o amor a resposta, mas a educação.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Vício Frenético

Certa vez, li que os filmes de Werner Herzog contêm ou heróis com sonhos impossíveis ou pessoas com talentos únicos em áreas obscuras. No caso do tenente Terence McDonagh (Nicolas Cage) em “Vício Frenético”, assistimos a um perfeito exemplo da segunda hipótese. Ele manda prender prostitutas, mas namora uma. Persegue traficantes, e é completamente viciado. Corrompe policiais, mas rouba as drogas que consome. Em meio à sua contravenção, ele resolve crimes. O diretor trabalha com situações extremas. E, apesar de permitir uma certa compaixão pelo tenente, já que explica a origem do seu vício; muitas vezes, chegamos a ponto de imaginarmos: Ah não! Aí, já é demais. Algumas pessoas, acharam graça no absurdo. A mim, ele incomodou. O mais interessante é que, para mim,  o final feliz seria que o tenente fosse preso.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

500 dias com ela

Branca Machado – 18/12/2009


“500 dias com ela” trata do eterno confronto entre expectativa e realidade. E do fato que, normalmente, nossas expectativas são sempre melhores que os acontecimentos. Nem por isso, devemos deixar de criá-las. Afinal, sonhar faz parte. O narrador (off) logo explica : “Esta é história de um garoto que conhece uma garota. Summer Finn era apenas uma outra garota. Exceto que ela não era.” Pelo menos para Tom...

No início, já se esclarece que não se trata de uma história romântica. É comum, verdadeira. E pode ser explicada do modo com que Summer (Zoey Deschanel) resume a Tom (Joseph Gordon-Levitt) por que seus antigos relacionamentos terminaram: “O que sempre acontece... a vida.”

Dirigido por Marc Webb, famoso diretor de vídeo clipes, o filme é repleto de pequenos truques que ajudam a contar a história. Narrativa não linear, animações, montagem paralela, ótima trilha pop. Os recursos contribuem com a narrativa e não são usados apenas por que é possível. Por exemplo, Tom vai a um evento e encontra Summer que o convida para uma festa na casa dela na outra semana. Ele cria fortes esperanças. A festa ocorre em montagem paralela. De um lado, a expectativa. De outro, a realidade.Na expectativa: ela o recebe com um beijo, fica com ele na varanda, fazem sexo.Na realidade: ela o recebe com um abraço amigo, ele está sozinho na varanda, ele bebe. A metade da realidade ocupa toda a tela quando Tom descobre que Summer tem um novo compromisso.

A partir daí, Tom não pode ver casais felizes. A fossa vem com tudo. Ele sozinho na rua vira um quadro em preto e branco. Sem muitas palavras, entendemos todo o processo interno que ocorreu com o protagonista durante e após a festa. Agora sim, pesou. Quantas vezes também já não fizemos isso? Criar expectativas para uma festa, evento, encontro, show e outros mais? Antecipar o que vai acontecer?

A vida surpreende, alegra, machuca, cura. E, de certa forma, podemos concluir o que Paul, amigo de Tom, descreve sobre sua namorada: “Robyn é melhor que a mulher dos meus sonhos. Ela é real.” Quando se está com a pessoa real, ela sabe. Sabe o quê? Sabe “tudo aquilo que ela não tinha certeza com uma outra pessoa.”