terça-feira, 6 de abril de 2010

Guerra ao Terror

Branca Moura Machado, 15/03/2010

O cineasta Eric Rohmer afirmou que “Todo bom filme é também um documentário sobre sua época.” Este é o caso de Guerra ao Terror que retrata com maestria o ambiente de uma guerra diferente. Um conflito urbano, no qual o inimigo pode ser qualquer um e não apenas um soldado com uniforme diverso.
Dirigido por Kathryn Bigelow, vencedora do Oscar 2010, o filme foi rodado em estilo semi-documental, a câmera é um integrante da cena. Acompanhamos as missões de Will James (Jeremy Renner), um soldado especialista em desarmar bombas. O personagem é complexo, cheio de nuances. E, ao acompanhá-lo, compreendemos perfeitamente a frase inicial do filme: “A emoção da batalha pode ser um vício poderoso e letal porque a guerra é uma droga.” Neste quesito, a cena de James, já de volta aos Estados Unidos, em frente à estante de cereais no supermercado é emblemática. Ali, ele está perdido. Ali, não sabe o que fazer. Ele não sabe escolher cereais, mas é especialista em desarmar bombas e é nessa atividade que encontra conforto.
Na primeira missão de James e sua equipe no Iraque, a placa atrás do veículo de guerra americano é enfatizada: “Fique 100 metros atrás ou atiramos.” Só ela já dimensiona o tipo de tensão do conflito.Não há um campo de batalha ou um front, mas uma tensão constante, onde uma bomba pode estar escondida no porta-malas de um carro ou no corpo de um civil.
A dinâmica da equipe é a seguinte: enquanto o especialista desarma a bomba meticulosamente, os soldados que o protegem devem olhar para todos os lados e prever todas as possibilidades de ataque. É sempre tenso.Em um certo momento, o coronel pergunta a James: “Qual o melhor jeito de se fazer estas coisas?” E o soldado responde: “O jeito de não morrer, senhor.”
Outra cena que representa bem a dinâmica desta guerra é o duelo entre atiradores de elite no deserto.As horas passam, os lados se observam, a boca seca, o sol queima e um observa o outro para conseguir o tiro certeiro. Não há tiroteio contínuo, mas quando se atira, normalmente, acerta-se. Um tiro, uma morte.
No filme, acompanhamos a contagem regressiva daquela equipe em sua missão no Iraque. Cada dia é um dia a menos naquela guerra. Cada dia é um dia a mais de risco de morte ou de testemunhar a morte de um colega.Só Will parece não contar o tempo que lhe resta no Iraque. Já nos Estados Unidos, ele reflete, ao brincar com o filho: “Aproveite enquanto você ama tudo; seus brinquedos, seu quarto. Quando você crescer, algumas coisas que você ama não serão tão especiais. As coisas que você ama vão diminuir para 01 ou 02. Eu penso que a minha é só uma”. A próxima cena é de Will de volta ao Iraque: CIA Delta. Dias faltantes: 365.

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