domingo, 25 de abril de 2010

O Segredo dos seus olhos

Branca Machado – 10/04/2010

Os olhos falam. Por meio deles, mistérios são resolvidos e amores declarados em “O segredo dos seus olhos”. Humor, mistério, amor e drama estão bem equilibrados nesta trama policial que utiliza com eficiência as diversas possibilidades da linguagem cinematográfica.

Alternando passado e presente, o diretor Juan José Campanella constrói belas rimas como a do “a” que falta à máquina de escrever e à palavra “TE MO” que Benjamim Esposito (Ricardo Darín) anota em um bloco numa madrugada qualquer e com a qual Irene (Soledad Villamil) mais tarde o confronta: “O que você teme?” . Na verdade, a pergunta deveria ser o que ele ama e a resposta ... Trata-se também do “a” que faz a diferença na frase dita pela promotora certa vez a Benjamim: “Não sei se há a justiça, mas há uma justiça”.

“Em 21/06/1974, Ricardo Morales e Liliana colotto, casados há 01 ano, acordaram, planejaram suas férias, ela fez chá com limão para ele, pois ele estava tossindo e saíram para trabalhar”. Este pode ser o início do livro que Benjamim, agora aposentado, escreve sobre um crime no qual trabalhou há 25 anos. Liliana Colloto
 foi violentada e assassinada naquela manhã e ele foi designado para acompanhar a investigação do caso.

O policial procura Irene, sua chefe em 1974, para que ela o ajude na redação do romance. Ele explica o motivo de sua visita: “Quero escrever sobre o caso Morales.” Ela, então, entrega a ele aquela antiga máquina de escrever do escritório que não bate a letra “a” e esclarece: “dois dinossauros se entendem”. Benjamim é um personagem interessante, envolvente; gostamos de acompanhá-lo. E, como outros personagens que se interessam por ele, afligimo-nos por ele se ater tanto ao passado. Várias vezes chamam a atenção dele por isso. Irene, com uma afirmação, enfatiza essa diferença entre os dois: “Minha vida inteira foi olhar para frente. Para trás, não é minha jurisdição.” E, talvez, a explicação para este apego de Benjamim seja mesmo a própria Irene. Tal como Pablo, seu amigo e colega de trabalho, afirma: “As pessoas podem mudar de tudo. Casa, família, religião, mas não podem mudar de paixão”. Benjamim deixou a sua no passado.

Pablo Sandoval (Guillermo Francella), o amigo alcóolatra, comove sempre que aparece e é também divertido. Ele é aquela pessoa que podia ser brilhante, podia ter uma vida em família feliz, mas infelizmente sua paixão o corrompe. E, como já dito, dela, a gente não se livra.

Alterna-se presente/passado com a simples caracterização e aparência dos personagens. Nesta alternância, montamos a história de vida daquelas pessoas. Lamentamos e torcemos por eles. Não é só a trama policial que nos envolve, mas tudo o que aconteceu aos personagens naqueles 25 anos. E é com satisfação que vemos a porta do escritório de Irene ser fechada. Ao fechar-se, ela finalmente dá a Benjamim um futuro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário