segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Estrelas Além do Tempo

Sabem aquelas histórias que devem ser contadas? Hidden Figures ou Estrelas Além do Tempo, tradução que não faz justiça ao título original, é uma delas. O filme conta a trajetória real e praticamente desconhecida de três mulheres negras:  Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), que trabalhavam na NASA em 1961; época em que Estados Unidos e União Soviética disputavam a corrida espacial e a segregação entre brancos e negros era muito forte na sociedade americana. Neste contexto, tais mulheres foram fundamentais para o avanço tecnológico que permitiu a ida do primeiro americano ao espaço.
O filme, apesar de abordar aspectos particulares da vida de cada uma, é ambientado quase todo o tempo na NASA, onde elas trabalham como computador (humano) : “A gente faz os cálculos necessários para que seja possível o lançamento do foguete”. Logo no início, elas recebem a notícia da recondução de Kate e Mary  a outros setores nos quais trabalharão em projetos específicos, auxiliando equipes basicamente masculinas. Kate recebe um aviso seco da sua supervisora (Kirsten Dunst): “Nunca tiveram um negro aqui antes. Katherine, não me embarace.” 
Katherine fez os cálculos de reentrada da cápsula que levou o astronauta John Glenn ao espaço, mas enfrentou dificuldades como ter que usar o banheiro de outro prédio, já que o local para o que foi reconduzida não tinha sanitário para negras. Mary, foi a primeira engenheira negra da NASA. E teve que lutar por isso na justiça. Em certo momento,afirma ao juiz: " O senhor sabe a importância de ser o primeiro. Não posso mudar a cor da minha pele. Então, a minha única escolha é ser a primeira. A primeira negra a frequentar uma escola de branco". Dorothy , por sua vez, descobre que a NASA vai começar a utilizar computadores (máquinas) para realizar seus cálculos e, assim, em pouco tempo, não precisará mais das equipes para realizá-los. Ela resolve estudar como funciona o IBM por que “alguém vai precisar programar estas máquinas”. 
Em um momento particularmente embaraçoso na biblioteca, a personagem explica aos filhos:  "separados e iguais são coisas diferentes. Não é porque fazem isso que estão certos." Ela, de certa forma, resume a postura das amigas diante das diversas situações que são obrigadas a enfrentar. Aceitavam o separado, mas nunca se consideraram diferentes. 
A escritora Cris Guerra afirma que “ser mulher é uma gincana”. A gincana que Elizabeth, Katherine e Dorothy enfrentaram era do tipo que “quando elas avançavam uma linha, eles mudavam o local da chegada”. Mas elas ganharam a gincana. E é muito bom saber disso.