quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Boyhood - da infância à juventude


Branca Machado - 17/11/2014

        Boyhood foi filmado durante 12 anos. No total, foram 39 dias de filmagem em uma produção de 4200 dias. Acompanhamos o crescimento de Mason (Ellar Coltrane) dos 06 aos 18 anos de idade. O curioso é que não se trata de um documentário, mas de uma ficção. O diretor Richard Linklater realizou algo inédito e teve a sorte de não perder nenhum ator nesse período. É interessante acompanhar as mudanças físicas do elenco ao longo do tempo. E, com elas, seu consequente amadurecimento; este, por sua vez, devido ao bom roteiro de Linklater. O que vemos podia ser a nossa vida. Muitas vezes, é bem parecido. Nada de transcendental acontece. Ou, ao contrário, percebemos o quanto nossa vida é transcendental...
     Assistimos ao protagonista crescer junto a sua irmã Samantha (Lorelei Linklater) e sua mãe Olivia (Patricia Arquette). O pai Mason (Ethan Hawke), divorciado de Olivia, também tem sua trajetória retratada. Acompanhamos, assim, a evolução dos quatro cujas vidas mudam bastante ao longo desses 12 anos. Mas dentro de um processo natural e lógico. Mason, com 06 anos, observa o céu, deitado na grama. Ele espera por sua mãe. Quando ela retorna, descobrimos sobre o que ele esteve refletindo: “Mãe, de onde as vespas vêm?”. Olivia, durante o filme, passa por relacionamentos que, querendo ou não, envolvem os filhos. Sobre ela, Mason comenta aos 17: “Gosto de minha mãe. Mas, basicamente, ela é tão confusa quanto eu.”. Estas reflexões mostram o quanto o menino amadurece ao longo do filme. Podemos fazer as mesmas constatações para os outros personagens. Como, por exemplo, no diálogo entre Mason e seu pai no qual este último revela que vai trabalhar numa companhia de seguros. O filho comenta: “Achei que você fosse músico...” O pai reflete: “Eu também. Mas a vida é cara, sabe?”. Ou quando Mason (pai) pergunta para Samantha: “Aquele cara no seu Facebook vai?” e acrescenta: “Sei mais sobre você pelo Facebook que quando a gente conversa...”. 
       Em certo momento, o pai canta uma música de sua autoria na qual afirma que chegadas e partidas caminham lado a lado. Ao final de sua trajetória, Mason despede-se de sua mãe para ir para a faculdade. Ele vai iniciar um novo caminho. E, com isso, Olivia também. A convivência entre partidas e chegadas tem que acontecer. Faz parte do nosso crescimento. Deixamos pessoas e coisas para que outras possam entrar.
      Ao mesmo tempo, há relações que nos acompanham por toda a vida, mas com mudanças em sua dinâmica. No aniversário de 15 anos do filho, a mãe pergunta a ele: “Você bebeu?” Ele olha para a taça de vinho que ela tem nas mãos e rebate: “E você? Bebeu?”. A relação entre eles torna-se cada vez mais igual e não de dependência. Em uma cena emblemática, Mason chega para encontrar Olívia e assiste ao final de sua aula. Ela fala sobre a teoria do psiquiatra John Bowlby que afirma que a sobrevivência depende de nos apaixonarmos e dá o exemplo da relação entre mãe e filho. E, a partir disso, quais as suas implicações na vida adulta. Praticamente, é disso que Boyhood trata. A cena é tocante, sem querer tocar. O filme é assim: sem pretensões. No entanto, consegue muito.