quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Café Society

Branca Moura Machado

        Woody Allen produz filmes que me fazem ter vontade de entrar na tela e ficar por lá:  Naquela época, naqueles ambientes com aquelas pessoas. Foi assim com “Meia-noite em Paris”, “Magia ao luar” e, agora, com “Café Society”. O filme se passa em Los Angeles, nos anos 30, no auge da Era de Ouro de Hollywood. Assistimos à história de Bobby (Jesse Eisenberg) que se muda para a cidade para trabalhar com seu tio Phil Stern (Steve Carell), famoso agente de estrelas de cinema.
O personagem de Phil é assim descrito pelo narrador (Woody Allen): “Nenhuma reunião estava completa sem Phil Stern.” Numa dessas festas, ele recebe um telefonema que, a princípio, ele pensou que pudesse ser de Ginger Rogers. Mas que, na verdade, era de sua irmã, Rose. Sua atitude ao atender a ligação revela-nos muito sobre ele e sua proximidade com a família. A irmã liga para avisar que o filho está a caminho: “Phil, é a Rose”. O agente questiona: “Rose?” e a ela continua: “Sua irmã...” Mais tarde, quando menciona Bobby, novamente Phil a questiona: “Bobby?” E Rose explica: “Seu sobrinho...” Daí, podemos ter uma ideia da importância que o agente dará à visita. Bobby sairá de casa pela primeira vez e levará 03 semanas para finalmente encontrar o tio. O sobrinho é ingênuo, bom camarada e atrapalhado; o alter ego do diretor no filme. Ele começa a frequentar lugares e festas, fica empolgado, mas não se deslumbra. Em uma delas, bebe um pouco mais e justifica: “Nunca misturei champanhe com sanduíche de salmão antes...” Aos poucos, ele acaba encontrando seu lugar naquele desfile de vaidades. E encontra também Vonnie (Kristen Stewart), secretária do tio, que lhe apresentará a cidade e conquistará seu coração. 
      Quando Phil finalmente recebe Bobby, justifica que o acordo com Howard Hawks está difícil. Em outro momento, conta que Judy Garland estava no jantar de Billy Wilder. Para quem conhece estes nomes, tão famosos para o cinema da época, é uma diversão a mais que o agente cite-os tão casualmente. No caso, Bobby deve estar fascinado. É como se, hoje, um tio comentasse que o acordo com o Spielberg está difícil. Ou que encontrou Uma Thurman no jantar do Tarantino. 
 “Café Society” é uma expressão criada por Maury Henry Biddle Paul em 1915 para descrever “pessoas bonitas” que socializavam e davam festas de alto padrão em cafés e restaurantes de Nova York, Londres e Paris. Exatamente o ambiente que o filme retrata, principalmente, quando Bobby volta para Nova York. O filme é lindo de se ver. A época é recriada com sofisticação, delicadeza e glamour. O diretor de fotografia Vittorio Storaro retrata Vonnie como Bobby a enxerga: perfeita. Ele inclusive utiliza o soft focus na personagem, um filtro que transmite uma beleza etérea ao rosto retratado.
    Ao final, pensamos: “Mas...Já?”. Ficamos com um gostinho de “quero mais”, com vontade de ficar por ali mais um pouco. Nossa sensação deve ser parecida com a de Bobby e Vonnie na virada do ano. Mas, como o cunhado de Bobby reflete, alternativas são excludentes. Ao escolher uma, deixamos de ter a outra.  Ela torna-se o “e se”. E não há muito o que fazer com ela. A não ser, guardá-la em um lugar especial de nossas lembranças.