segunda-feira, 30 de abril de 2018

Lady Bird



Na primeira cena de Lady Bird, Christine (Saoirse Ronan) está no  carro com a mãe, Marion (Laurie Metcalf), e pergunta: “Acha que pareço ser de Sacramento?”. Sua mãe olha para ela como quem não acredita e responde: “Você é de Sacramento.”. As duas tinham acabado de ouvir e se emocionar com uma gravação do livro “As Vinhas da Ira” de John Steinbeck. Em seguida, começam esta discussão que não termina bem. Christine quer sair de Sacramento, entrar numa boa faculdade. A mãe é mais pé no chão e de uma maneira torta tenta proteger a filha dessas expectativas que considera inalcançáveis. Para Marion, o caminho natural de todos que crescem por ali com aquelas condições é: “Escola técnica, cadeia, escola técnica.”. Christine, então, reage de forma inusitada às profecias da mãe.
A cena termina de forma estranha, mas resume bem a dinâmica entre as duas. Ao mesmo tempo em que estão em perfeita harmonia, podem entrar em um forte confronto. O filme nos ajuda a entender esta fase complicada entre pais e filhos e compreender melhor esta relação de amor, muitas vezes, conturbada. Marion quer o melhor para a filha e não sabe como demonstrar sem ser ríspida ou implicante; a filha, insegura e cheia de conflitos, interpreta da pior maneira as atitudes da mãe. 
Christine quer tanto mudar que não aceita nem seu nome e, bem apropriadamente, pede que a chamem de Lady Bird. Ela quer voar, mas está no último ano do colegial e não tem boas perspectivas de entrar nas universidades que almeja. A conselheira da escola avisa sobre uma das opções da protagonista: “Você não entraria... Meu trabalho é ser realista.”.
Ao longo do filme, acompanhamos a trajetória de Lady Bird neste último ano escolar, seus altos e baixos, seus primeiros amores, seus conflitos, mas, acima de tudo, sua relação com a mãe. Christine é autêntica, não tem vergonha de se arriscar, mas, como qualquer outra adolescente, ainda não encontrou seu lugar no mundo,e, por isso, transita por alguns núcleos diferentes até perceber que não precisa ser diferente do que é para que alcance o que procura. Numa cena emblemática e, não por acaso, numa loja na qual a protagonista experimenta roupas para seu baile de formatura, a mãe de Lady Bird diz a ela: “Eu te amo.”. A filha questiona: “Eu sei, mas você gosta de mim?”. A mãe explica: “Eu quero que você seja sua melhor versão.”. E a filha a confronta: “E se esta for minha melhor versão?”.
Não é fácil definir nossa melhor versão. O que é melhor para nós, muitas vezes, não é melhor para os outros. Além disso, nossa melhor versão deve estar sempre mudando; pois, do contrário, estagnamos. E, neste caso, a protagonista, está no caminho certo. Começa como Lady Bird e termina como Christine: “Apenas Christine.”.