sexta-feira, 6 de maio de 2022

Anatomia de um Escândalo

 

                Anatomia de um Escândalo é uma série curta da Netflix, daquelas boas de maratonar. Conforme comenta Patrícia Kogut, crítica do jornal O Globo: "é uma série que motiva uma conversa depois que acaba o capítulo."

A produção retrata o que acontece com a vida da família de Sophie (Sienna Miller),  esposa de James Whitehouse (Rupert Friend), um político poderoso que vive de forma privilegiada e luxuosa, depois que um escândalo sobre James vem à tona e ele é acusado de um crime chocante.

A partir desta descoberta, acompanhamos as reações íntimas e as públicas daquele casal ao acontecido e também ao julgamento do crime; com tudo o que ele revela e que não foi dito em um primeiro relato. Principalmente, entre James e Sophie. Whitehouse costuma usar um termo "verdade essencial" para explicar à esposa por que deixou de contar certos fatos sobre os acontecimentos. 

Sophie, além de conviver com a traição recém descoberta, acompanhada da acusão de um crime cometido pelo marido, tem que manter a pose e fidelidade a James, ao mesmo tempo em que ouve coisas do tipo "Minha esposa dizia: Uma vez, legal. Duas, tchau" ou "Homem é assim mesmo, mas este aprendeu a lição" - justificativas clichês; que não se tornaram clichês à toa.

A série é entremeada de lembranças do começo do relacionamento, pelas quais podemos perceber como algumas características da relação e sua evolução já se destacavam. Há lembranças também de como o caso entre James e Olívia Lytton (Naomi Scott) aconteceu. As transições entre os personagens na cena lembrada e na que está acontecendo em tempo real são realizadas de forma bastante orgânica. Como se os personagens esivessem dialogando mentalmente com suas memórias e seus fantasmas.

Anatomia de um Escândalo é a adaptação de um livro de 2018 com o mesmo nome. O livro foi escrito pela correspondente política que virou romancista Sarah Vaughan. A trama aborda temas como as fraternidades em faculdades inglesas, o excesso de nepotismo que existe dentro dos altos escalões do parlamento britânico, a aristrocracia inglesa e seu lugar acima do bem e do mal, a fome de escândalos dos tabloides e o julgamento de Whitehouse; todos ingredientes excelentes para uma história que prende o espectador. 

Ao assistir, senti-me como uma jurada que tinha de decidir se o reú é culpado ou inocente. A direção nunca deixa isso claro. O crime ali apresentado possui uma linha tênue entre ter acontecido ou não. Por isto, a decisão sobre ele é tão delicada e importante. Em sua alegação final, a promotora Kate Woodcraft (Michelle Dockery) afirma "pessoas privilegiadas não podem burlar a lei sem sofrer consequências. O privilégio de James Whitehouse não se estende ao estupro"; enquanto a advogada de defesa Angela Regan (Josette Simon) rebate: "a vergonha, a raiva, a humilhação não deveriam ter o poder de reverter o sexo consensual em estupro".

Retomo, então, o comentário de Patrícia Kogut, temos vontade de discutir a série com alguém. Se assistirem e quiserem comentar, estou por aqui.