terça-feira, 1 de junho de 2021

Soul

 

    Soul é o vencedor do Oscar de melhor filme de animação 2021. De certa forma, ele é uma grande reflexão sobre a vida e o que fazemos dela. E representa bem aquela frase de John Lennon: "a vida é aquilo que acontece, enquanto você está fazendo planos". Dirigido por Pete Docter, o filme apresenta o primeiro protagonista negro da história da Pixar. Joe Gardner (dublado por Jamie Foxx no áudio original) é um pianista de Jazz que sonha em fazer sucesso nesta profissão. Sua grande referência é seu pai, que também era músico, e o levou, quando criança, a um show: "Música de improviso, meu filho. É uma das nossas grandes contribuições para a cultura.". 
    Não por acaso, no mesmo dia em que Joe recebe, não muito animado, a notícia de que será efetivado na escola na qual leciona música; ele recebe o convite dos sonhos: tocar piano no quarteto de jazz de Dorothea Williams (Angela Basset). Em sua empolgação, afirma: "Eu morreria feliz, após tocar com Dorothea!". Ocorre que a vida não espera. E Joe sofre um acidente antes de que o show de fato ocorra.
     Ao chegar na grande escadaria que o levará ao portal do além vida, a alma de Joe não aceita aquele destino, e desce, desce, desce, até cair e chegar na pré vida. Ali, conhece a 22 (Tina Fey), uma alma que não quer viver. Apesar de ter tido mentores, como Abraham Lincoln, Gandhi e Madre Tereza, 22 nunca foi convencida a descer para a Terra e ter a experiência da vida. Joe passa, então, a ser o seu mentor, e temos ali, de um lado, uma alma que quer voltar à vida a qualquer custo; e, do outro, uma que não foi convencida a viver nem por Carl Jung. Sobre o psiquiatra, 22 comenta que ele disse a ela: "Meu inconsciente repudia seu ego". A dinâmica entre Joe e 22, de certa forma, personagens antagônicos, e suas reflexões são o ponto alto do filme e nos faz refletir o tempo todo sobre nossas próprias vidas. 
    O filme apresenta um grande contraste visual entre o mundo das almas, que é minimalista e tranquilo e dos vivos, em Nova York, que é realista e cheio de detalhes. A história trabalha conceitos como propósito, missão e sentido da vida. Ao final, uma das Zés, instrutoras do pré vida, afirma que está no ramo da inspiração, na missão de guiar a pessoa pelas suas próprias vivências e interesses. A representação das Zés tem clara inspiração cubista, numa representação contrária ao realismo proposto nas cenas em Nova York.
    Soul é também o tutor do público. Em certo momento, quando 22 se empolga com o gosto da pizza, ou com o céu visto da Terra, e afirma que sua missão pode ser curtir estas coisas, Joe  estranha e diz "Isto é só a vida.". Inevitável, nesta hora, pensarmos: "Só?!" A mensagem que fica é que a vida é toda hora. Todo dia. Cada coisa. E isto não é só. Isto é tudo.