sexta-feira, 18 de maio de 2012

A Invenção de Hugo Cabret




Hugo Cabret (Asa Butterfield) tem uma forma interessante de pensar. Ele imagina que o mundo é uma grande máquina e, por isso, ele não poderia ser uma peça extra. Numa engrenagem, tudo tem uma função e a de Hugo não poderia ser mais encantadora. Em busca de consertar um autômato, atividade que seu pai deixou inacabada antes de morrer, Hugo vai reviver uma história que merece ser contada. A história de George Méliès (Ben Kingsley).

George Méliès, o cineasta precursor dos efeitos especiais que viu na imagem em movimento uma real forma de se contar histórias e uma oportunidade de fazer mágica e encantar, já estava esquecido quando Hugo o conheceu. Ao reformar o autômato, Hugo faz reviver Méliès. E, talvez, seja isso que Scorsese faça com o cinema e com o 3D neste filme. Aqui, este efeito é mais que um simples efeito. Scorsese faz mágica, encanta e cria uma finalidade para ele no discurso além de ser... 3D. Ele aproxima, assusta, emociona, diz. Como quando o guarda da estação se aproxima de Hugo para interrogá-lo e seu rosto se aproxima da gente tão ameaçador como deve ser para Hugo. Ou quando Isabelle (Chloe Grace Moretz) cai na estação e todas aquelas pessoas apressadas começam a atropelá-la. Sentimos o tumulto. Somos pisoteados também. Por causa do 3D, a profundidade de campo vem com mais camadas. Um bom exemplo disso é a bela cena em que temos Hugo em primeiro plano, olhando por uma grade, atrás dele, avistando o guarda conversando com o motorista do camburão e ainda mais ao fundo, a Torre Eiffel.

Tanto em “Hugo” quanto em “O artista” há sonhos incluídos. O cinema pode falar de sonho, mas pode também falar da realidade. O filme transita fácil entre esses dois extremos. Hugo assiste a realidade ao observar as pessoas que passam pela Gare du Nord, onde vive. Ao centrar sua trama numa estação de trem e pontuar as pequenas ações que acontecem ali por meio das observações do protagonista, Scorsese também homenageia os irmãos Lumière, que buscaram “capturar” o real com suas imagens.

Assistir ao “ A invenção de Hugo Cabret” é reviver o encantamento que os espectadores de Lumière e Méliès tiveram no início do século. É revalorizar uma arte e uma forma de discurso tão cheia de alternativas que se corre o risco de utilizá-los sem propósito. O livreiro, no filme, tem um propósito: “Mandar o livro a um bom lar”. Parece que o propósito de Scorsese é o mesmo.