sexta-feira, 16 de agosto de 2019

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Dor e Glória

31/7/2019

Em Dor e Glória, Pedro Almodóvar conta a história de Salvador Mallo (Antônio Banderas), diretor de cinema em declínio, que relembra sua vida e carreira desde sua infância em Valência, nos anos 60. Segundo o diretor,  este filme é seu  projeto mais pessoal. A história encerra a trilogia do desejo de Almodóvar, completada por “A lei do desejo”, de 1987, e “Má educação”, de 2004.
A dor do filme é caracterizada pelas constantes enfermidades do protagonista que, desde a infância, aprendeu a conviver com a dor. Ele tem dores no corpo, coluna, e na alma, já que lida também com a depressão. O que o salva é “fazer filmes”.  A glória do título deve-se ao seu sucesso como cineasta que, ao longo da carreira, dirigiu diversos filmes bem sucedidos e premiados. Ocorre que Salvador encontra-se em um bloqueio criativo por estar impossibilitado fisicamente de filmar. E, com isso, tem tempo demais para pensar em suas enfermidades.
O protagonista está perdido, desanimado, sente-se sozinho e começa a conviver com lembranças demais e gente de menos. A história começa quando Salvador é convidado a comparecer a uma sessão especial de seu filme "Sabor", que estreou há mais de 32 anos. A partir deste convite, o diretor procura Alberto (Asier Etxeandia), ator que foi o protagonista do longa e com quem Salvador cortou relações por não concordar com a interpretação do ator. Sobre ela, Mallo reflete: “A atuação de Alberto ganhou muito com o tempo”.
  Esta retomada de relação com Alberto é, de certa forma, um recomeço. O ator descobre "Vício", um conto escrito pelo diretor e resolve encená-lo no teatro. Salvador não quer se envolver com a produção  já que considera o conto “uma história de erros que se viu contada”. Mesmo assim, terá que lidar com o que esta peça resgata do seu passado. É um ciclo discursivo interessante ver Alberto ler o conto, interpretá-lo em um monólogo, e assistirmos a tudo no cinema. "Dor e Glória"  é entremeado de flashbacks não lineares e cenas fictícias que constituem um complexo trabalho narrativo. 
Almodóvar mantém o colorido e as estampas, características de seus filmes. As cores primárias estão lá, presentes e pensadas. No entanto, a obra é introspectiva; o que não é comum em outras obras do diretor.  O filme é melancólico ao mostrar que a glória não traz necessariamente o alívio. A dor não fica melhor, pode ser mascarada quando se faz algo com paixão. Este é o caminho da cura de Salvador no filme. E, talvez, o caminho de Almodóvar. Um caminho que, para nossa sorte, ele compartilha com o espectador.