quinta-feira, 8 de abril de 2021

OS 7 DE CHICAGO

   Branca Moura Machado

Os 7 de Chicago é um filme de julgamento, baseado em uma história real, com elenco estrelar. Basicamente, uma receita de sucesso. A produção original do Netflix concorre aos Oscares de melhor filme, melhor roteiro original. melhor ator coadjuvante (Sacha Baron Cohen), melhor fotografia, melhor montagem e melhor canção original (Hear my voice). Não à toa, ele não foi indicado à melhor direção. Aaron Sorkin, roteirista e diretor do filme, foi melhor em escrever a história que dar ritmo e voz à ela. Ficamos com a sensação de que o filme promete mais do que entrega. Mesmo assim, é uma excelente escolha no catálogo do streaming.

Conhecer esta história ocorrida em Chicago em 1968, no dia da Convenção Democrata na cidade, vale a pena. Vários grupos diferentes, mas com uma causa em comum - o fim da guerra no Vietnã, planejaram manifestações pacíficas e sincronizadas para a mesma data em Chicago. Da mesma forma, o prefeito planejou segurança máxima para combatê-las, se necessário. O que poderia dar errado? A gasolina estava espalhada; era só riscar o fósforo... E foi com uma aproximação policial a um manifestante que tudo "pegou fogo". Resultado? Os 8 líderes dos movimentos foram acusados e julgados por conspiração. E é a este julgamento que assistimos no filme.

O governo processou os líderes de diferentes movimentos políticos por supostamente instigarem manifestantes a um motim. Um mês depois do início do embate judicial, Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), líder dos Panteras Negras e único negro acusado, após sofrer diversas humilhações e atitudes extremamente parciais por parte do juiz, foi separado dos demais reús e, assim, ficaram os 7 do título. Uma das cenas mais incômodas é justamente a que mostra a sequência de acontecimentos até o juiz Julius Hoffman (Frank Langella) apartar o caso de Bobby. O réu manifestava-se constantemente sobre o fato de não ser representado por um advogado e, desta forma, não poder ser julgado naquele momento. O juiz, então, perdeu a  paciência e ordenou que os policiais o amordaçassem. Bobby passou, então, a acompanhar seu julgamento com uma faixa branca amarrada a sua boca. A reação ao acontecimento foi tão forte, que o  juiz acabou cedendo ao pedido do réu. 

O julgamento durou mais de 06  meses e a manipulação escancarada para que os réus fossem condenados é de embrulhar o estômago. Como William Kunstler (Mark Rylance), o advogado de defesa, manifesta em determinado momento: "Qual a necessidade do julgamento, se todos já são considerados culpados? O fato é que  era um julgamento político, necessário por seu simbolismo. As cartas estavam marcadas e a sensação que temos é de que tudo aquilo se tratou de um grande teatro. O fato de, em alguns momentos, assistirmos a Abbie Hoffman (Sacha) narrar os acontecimentos em forma de Stand up só reforça esta impressão.

Os 7 de Chicago retrata é que uma causa em comum é capaz de unir os mais diversos grupos e, com isso, provocar reações proporcionais (ou desproporcionais) de quem está do outro lado. O longa é um retrato sobre como a dinâmica entre o poder estabelecido e a reação a ele durante o embate no Vietnã funcionava. A vitória na guerra tornou-se uma obsessão e, qualquer manifestação contrária à ela era combatida, não importava de qual lado viesse. E,  com os 7 de Chicago, percebemos que foram de muito lados.