quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Orgulho & Preconceito (2005)

 


Parafraseando Jane  Austen, “É uma verdade universalmente conhecida que Orgulho e Preconceito é um grande clássico da literatura inglesa.”. Um clássico que além de ter inspirado vários outros escritores ganhou diversas adaptações para a televisão e cinema. Existe até uma versão zumbis. Falarei aqui da versão de 2005, com Keira Knightley, no papel de Elizabeth Bennet e Matthew Macfadyen, no papel do Mrs. Darcy; versão que, recentemente, voltou  ao catálogo do Netflix. 

O que faz Jane Austen ser considerada a primeira romancista moderna da literatura inglesa é que “mesmo não tendo sido uma frequentadora ativa da alta sociedade da época, conseguiu retratar todos os sentimentos, hábitos e intrigas dos ricos nobres de berço de forma extraordinariamente fiel, não poupando o leitor ou suavizando a verdade. Um pioneirismo literário significativo para uma mulher daquela época.”, escreve Clara Ferreira sobre a autora.

Seu segundo romance “Orgulho e Preconceito” foi escrito antes de Jane completar 21 anos. Quem conhece bem o livro sente falta de alguns momentos chaves que foram deixados de lado pelo filme. Mas o longa apresenta um Mrs. Darcy que se encaixa ao imaginário da maioria dos leitores e, quem só o conhece no longa, vai enxergá-lo do modo que Jane Austen escreveu. Da mesma forma, Elizabeth Bennet, e sua personalidade à frente de sua época, está bem representada. Esta é a essência desta obra: Mrs. Darcy e seu orgulho; Elizabeth e seu preconceito.  Às vezes, também o inverso. E como eles são colocados à prova o tempo todo ao longo da trama.

O filme retrata a Inglaterra de 1811, na qual as mulheres só tinham um objetivo: casar-se com um homem que as sustentassem. Principalmente na família Bennet. Com 05 irmãs, e nenhum irmão, a herança do pai das meninas irá para o parente homem mais próximo. As mulheres da família podem perder, inclusive, a casa onde vivem com a morte do pai. Em um contexto assim, casar-se é sobrevivência. 

Há composições de cena muito bem trabalhadas, como quando, ao visitar Mr. Bingley, a mãe e as irmãs de Elizabeth estão sentadas em um sofá juntas, enquanto Elizabeth está sozinha no sofá de frente a elas. Elas são filmadas em plano e contra plano e a montagem simboliza a diferença entre Elizabeth e o restante de sua família. No plano completo, acrescenta-se no centro, mais à frente, entre os dois sofás,  Mr. Darcy, Mr. Bingley e sua irmã. Estão em pé, são a vértice superior deste triângulo. Outra solução interessante é quando Elizabeth está no balanço de sua casa e chove, aparece o sol, faz frio; enquanto ela balança, o tempo passa.

O ambiente é o dos bailes ingleses, jantares da nobreza, repletos de etiqueta e de arrogância. Um terreno fértil para o preconceito e generalizações. Jane Austen é muito hábil em, com sutileza e uma certa ironia, criticar todo este comportamento em suas obras. É bonito ver a desconstrução das posições de Darcy e Elizabeth. 

A grande virada da história está numa carta que o protagonista escreve a Elizabeth. A missiva, faz com que ela passe a enxergar o que ele vê  e isto muda tudo. O personagem que, a princípio, parece ser o vilão, torna-se humano, com suas imperfeições e razões. Do mesmo modo, quando Elizabeth expõe a Darcy os motivos pelos quais ele é o último homem com quem ela se casaria faz com que ele entenda o filtro que ela tem sobre ele e o motiva a escrever a carta. Não deixa de ser uma grande lição de empatia. Da qual, afinal, estamos todos precisados.