terça-feira, 31 de julho de 2018

O que terá acontecido a Baby Jane?

Branca Moura Machado

A ideia de rever “O que terá acontecido a Baby Jane?” veio  de um meme irônico que recebi no dia do amigo com a foto das duas protagonistas na qual elas estão atrás de uma janela com grade e os rostos amargurados. As duas não são propriamente amigas, mas irmãs. E a dinâmica entre elas não é propriamente fraterna, está mais para uma atmosfera rodriguiana...
O filme começa com um prólogo em que vemos Baby Jane como uma celebridade infantil em 1917. Ela é  idolatrada pelo pai, enquanto Blanche, sua irmã mais velha, é mal tratada e ignorada por este mesmo pai. Se a explicação dos problemas adultos está na infância, só esta introdução explica tudo.
Ainda no prólogo, estamos em 1935 e os papéis se inverteram:  Blanche é uma estrela de cinema e Jane tornou-se uma canastrona que pega carona na fama da irmã. Nesta situação, ocorre um acidente mal explicado e, então, o filme realmente tem início.  Enquanto os créditos que, na época eram divulgados no início da trama, são exibidos, o close na boneca de Baby Jane com a cabeça quebrada após  a batida  é de um simbolismo incrível.
Em 1962, as irmãs moram sozinhas numa mansão. Blanche está numa cadeira de rodas e quase não sai de casa. E Jane, alcoólatra, voltou a beber e tem problemas psicológicos.  Sua ideia é retomar o espetáculo que fazia na infância; o que a torna um personagem extremamente trágico. A cena em que ela reproduz  o número que fazia com o pai ao cantar "I've Written a Letter To Daddy" é a caricatura desta triste e decadente tentativa de resgatar seu passado.  Não à toa, a personagem usa uma maquiagem carregada que remete a um palhaço. Estrelado por Joan Crawford (Blanche), então com 57 anos, e Bette Davis (Jane), com 54, o  filme ainda tem sua aura aumentada pelo fato das  02 atrizes terem sido inimigas declaradas na vida real.
O diretor Robert Aldrich utiliza a montagem paralela para aumentar a tensão do espectador e fazer com que ele torça, por exemplo,  para que Jane não chegue à mansão, enquanto Elvira (Maidie Normam), a funcionária da casa, tenta abrir uma porta. Pegamo-nos apertando as mãos ou quase gritando para que  a governanta seja mais rápida...
Passamos todo o filme esperando uma reviravolta, mas o que recebemos é uma revelação; que, de algum  modo,  explica aquela dinâmica absurda entre as duas irmãs e  a postura sempre tão apaziguadora de Blanche com relação à Jane, trazendo um certo alívio diante de toda aquela expiação.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Oito Mulheres e um segredo

         Oito Mulheres e um segredo, estrelado por Sandra Bullock e Cate Blanchett  é um spin-off (obra derivada) de Onze homens e um segredo, filme de 2001, estrelado por Brad Pitt e George Clooney;  que, por sua vez, é um spin-off da obra de mesmo nome, lançada em 1960 e estrelada por Frank Sinatra e Dean Martin.  Nos meios de comunicação, obra derivada é um programa de rádio,  de televisão, filme ou qualquer obra narrativa criada por derivagem, isto é, originada a partir de uma ou mais obras já existentes. 
As três obras citadas possuem elenco estelar que, por si só, já são um grande atrativo para os longas. Mas os filmes são irônicos, charmosos, clássicos e baseiam sua trama no planejamento meticuloso de um roubo espetacular  e na formação da equipe que realizará o roubo:  cada um deles tem uma fução específica e esssencial para que o plano funcione. Muito mais que ação, são tramas de raciocínio rápido que criam expectativa  e fazem com que a plateia  anseie pelo que está para acontecer.  
Recém saída da prisão, Sandra Bullock interpreta Debbie Ocean, que, nos 05 anos em que esteve presa, planejou meticulosamente um assalto que deverá ocorrer durante o baile de Gala do Met em Nova York.  Para isso, ela busca o apoio de Lou (Cate Blanchett), Nine Ball (Rihanna), Amita (Mindy Kaling), Constance (Awkwafina), Rose (Helena Bonham Carter), Daphne Kluger (Anne Hathaway) e Tammy (Sarah Paulson). Ao ouvir a descrição do golpe, Lou declara: "Você vai precisar de 20 pessoas e meio milhão de dólares". Mas Debbie esclarece: "Preciso de sete pessoas e 20 mil". Ela pretende roubar o lendário colar "Toussaint" avaliado em mais de U$ 150 milhões. A joia, incrustada de  diamantes, pesa 2,7 Kg e se encontra em um cofre no subsolo da Cartier há 50 anos. Conforme questiona Rose ao convencer a joalheria a emprestá-lo para que Daphne possa usá-lo: "De que adianta um colar destes existir, se é para ficar enterrado?".
É um prazer passear pelo Metropolitan juntamente com elas para planejar o roubo. A montagem e as tomadas nos trazem uma boa ideia do porte e da austeridade do Museu. Igualmente  prazeroso é assistir à preparação daquelas mulheres para o dia do golpe  e os comentário entre elas. Ao analisarem a lista de convidados, uma delas pergunta; "Este é o Leo (diCaprio)? Leo, Leo?". E a outra esclarece: "Só existe um Leo". Depois, Amita questiona: "Nós não podemos ir ao baile também ao invés de  só roubá-lo?". 
Oito Mulheres e um segredo é a versão feminina e,  por isso,  mais elegante,  glamourosa, delicada e  sutil de um clássico tema masculino. Possui clichês e alguns furos na trama como as outras versões, mas, com um elenco forte e carismático e trama atrativa, é uma ótima diversão para um sábado à tarde.