sexta-feira, 7 de junho de 2019

Rocketman (2019)

Uma cinebiografia costuma ser interessante de se ver. A pessoa ali retratada não teve sua história contada à toa. Descobrimos nuances  sobre ela que, ou nos fazem admirá-la mais, ou, surpreendem-nos de forma negativa, mas é difícil ficarmos indiferentes. Foi isto que aconteceu comigo ao assistir Rocketman. Descobri um Elton John muito maior e mais complexo do que eu conhecia. 
Um dos fatores que ajudaram a aumentar minha admiração foi o fato de Rocketman  concentrar as melhores músicas do cantor em duas horas. Assim, percebemos seu talento de forma bem mais intensa. São músicas pessoais, transparentes, intensas, apresentadas no contexto certo; o que nos faz passar o filme emocionados. Como afirma o crítico do UOL, Roberto Sadovski: “gênios de verdade cantam o que sentem e mostram quem são.”. No filme, também passamos a conhecer melhor o compositor Bernie Taupin (Jamie Bell) que colabora com Elton (Taron Egerton) desde 1967 e escreveu as letras da maioria das músicas do cantor. Bernie foi uma espécie de porto seguro na vida de Elton, já que o cantor veio de uma família fracionada  e, muitas vezes, ausente. O pai só chamava o filho de "garoto" e, numa cena emblemática, ele estala os dedos e Elton tem que sair de onde está para o pai sentar.
O modo de contar a vida do cantor foi solucionado de forma eficiente. Elton está numa reunião dos Alcoólicos Anônimos e resume seu problema: “Sou alcoólatra, viciado em cocaína, em sexo,  bulímico, comprador compulsivo...” . A partir daí, ele reconta sua história. Isto dá ao filme a licença poética necessária para incluir cenas musicais em lugares que não existiriam e chegar às conclusões as que o cantor chegou, pois o tempo todo estamos acompanhando a narrativa dele. Como produtor executivo do filme, percebemos que o cantor aceitou grande parte do que foi e fez e não teve medo de contar. 
O cantor fez sucesso muito cedo, quando não havia definido nem sua sexualidade, muito menos quem era de verdade. Foi influenciado pelos discos de sua família, pelas bandas que acompanhou e por pessoas, tanto do bem quanto do mal, que encontrou pelo caminho. Até se conhecer (e se aceitar), foi muito sozinho. Tudo isto, em meio a uma carreira meteórica, que não parou mais. Realmente, sua ascensão foi como a de um foguete. Mas não sua aceitação. No meio do caminho, ele foi ao fundo do poço. Não à toa o filme mostra a primeira apresentação do cantor nos E.U.A, aos 23 anos, no Troubadour, clube tradicional em Los Angeles. Ao som de "Crocodile Rock", o cantor e a plateia flutuam no ar numa demonstração de quanto o momento foi especial. Algum tempo depois, com o sucesso já concretizado, há outra cena, na casa dele, com Elton embriagado em que ele se joga no fundo da piscina ao som de Rocketman. São duas cenas opostas e muito simbólicas do longo caminho de Elton até se encontrar. 
Aos 28 anos, o cantor  já era multimilionário, mas sua autoestima era baixa, ele era inseguro, tímido e teve que criar um personagem para se apresentar nos palcos. Em certo momento, ele afirma: "Até onde eu me lembro, sempre odiei a mim mesmo.". Há uma cena em que ele surge diante de um espelho, ensaiando um sorriso que, na verdade, não tinha. Mas Elton aprendeu a se amar e  aprendeu a perdoar. Até chegar onde está, descobrimos que, ironicamente, o  Rocketman precisou de tempo. Conforme a letra da música que dá nome ao filme: "Eu acho que vai ser um longo, longo tempo até que o pouso me restaure a consciência novamente para descobrir  que eu não sou o homem que eles acham que sou em casa.".