quarta-feira, 19 de abril de 2023

Tár

 

A protagonista Lydia Tár (Cate Blanchet) está presente em todas as cenas do filme que, não à toa, leva seu nome. O longa é sobre ela em todas as suas qualidades e, principalmente, imperfeições. Apesar de que, a princípio, ela nos pareça, se não perfeita, quase. 

De imediato, somos apresentados à maestrina de maneira bem eficiente e completa, já que a conhecemos juntamente com a plateia que assiste a sua entrevista para um crítico da The New Yorker. A leitura de seu currículo pelo entrevistador já nos impressiona, mas, quando ela começa a responder às diversas perguntas que ele faz, percebemos, nos primeiros 15 minutos do filme, que estamos diante de uma artista genial. Uma maestrina como poucas. Passamos, assim, a observá-la de forma bem mais interessada. A cena nos apresenta a ela e ao seu próximo projeto ao qual vamos acompanhar ao longo da história. 

Ainda em Nova York, ela vai dar uma aula na Juilliard. Esta aula é bem interessante e fica ainda melhor, quando  afinal percebemos que, na verdade, Tár realiza uma autodefesa no que ainda está por vir na trama. A cena é filmada sem cortes. E aborda diversas reflexões e temas atuais. Quando Max, um aluno argumenta que não escuta Bach por causa do seu machismo, ela pergunta: “O que suas escolhas sexuais têm a ver com sua música? Se o talento de Bach pode ser reduzido a seu gênero, país de nascimento, entre outras coisas; o seu também pode, Max”. 

Tár volta para Berlim para ensaiar com a famosa filarmônica a qual rege. Assistimos, nos ensaios, à meticulosidade dela. Mas também presenciamos um grau de arrogância tão elevado que faz com que a pessoa considere que o certo e o errado não são mais para ela. Tár pode. O resto do mundo, não. Será? O mundo mudou e não basta ser apenas gênio é preciso ser outras coisas também. 

O filme mostra a trajetória inversa da narrativa clássica de uma heroína. Ele começa com a protagonista no auge de sua vida e carreira e mostra uma das possibilidades do que pode vir depois de um final feliz. A vida não termina no auge. Ela continua. E expõe falhas, defeitos, arrogância e conflitos. A vida cobra algumas contas também. É também oportunidade de um recomeço. A protagonista afirma em certo momento que o lar de um músico é o palco. Quem sabe em seu lar, Tár não conseguirá de alguma forma redescobrir aquilo que a conecta com o que tem de melhor?