Ao assistir “Buscando”, você não verá uma única cena em que a câmera filma diretamente
o personagem. Sempre haverá um “mediador” entre ela e o espectador; quer seja
a tela de um computador, um aparelho celular ou imagens de uma câmera de segurança.
O diretor Aneesh Chaganty sempre nos apresenta o ponto de vista de um personagem ao
utilizar um destes aparelhos. Ele realizou com maestria esta obra que nos faz “navegar”
pelas diversas possibilidades tecnológicas e redes sociais juntamente com os protagonistas.
O filme conta a história do viúvo David Kim (John Cho) que, quando sua filha Margot (Michelle La) de 16
anos desaparece, passa a investigar seu paradeiro por meio do computador e redes sociais. Pelas fotos e vídeos
armazenados no computador, acompanhamos o crescimento de Margot e passamos a conhecer a vida daquela
família na história armazenada nos arquivos; ou nas pesquisas que Pam (Sara Sohn), a mãe, realiza, tais como
"Como combater o linfoma em família". A menina cresce naquela tela. e, depois de um tempo , passa a organizar
sua própria agenda, a qual consulta pelo computador. Em um certo dia, está marcado: "Mamãe volta para casa."
Ela vai adiando este dia; até que exclui o evento... Em seguida, vemos fotos só da menina e do pai. E, não demora,
fotos só da menina. Trata-se de uma boa introdução que não só nos ajuda a entender a dinâmica entre pai e
filha como o próprio funcionamento do filme. Percebemos que quem dava a liga era a mãe. E, sem ela, pai e filha
passam, cada vez mais, a ter uma relação de amor, mas distante. Quando o filme chega ao apresente, assistimos
à menina, por meio do Facetime, avisar ao pai que está em um grupo de estudos e vai chegar mais tarde. Depois,
aparecem mais chamadas dela para David, mas vemos, pela câmera do computador do quarto, que ele dorme.
No dia seguinte, como Margot demora a chegar, david fica preocupado e resolve pesquisar o notebook dela.
Começa, então, um thriller de suspense que nos deixa presos à trama. Interessante notar que o pai não conhece
os amigos da filha, tampouco possui seus contatos e, por isso, tem que recorrer às redes sociais. Aos poucos,
descobre hábitos, atitudes e características de Margot que desconhecia. A menina e não apenas seu desaparecimento
tornam-se um mistério a ser desvendado. Em suas pesquisas, ele pergunta para um conhecido da filha, coisas como: "Mas ela tem amigo, né?", descobre
também o tumblr, onde ela postou vídeos bem pessoais e melancólicos. A presença virtual da filha torna-se
intensa, mas a real pode não ser mais uma possibilidade...
A trama imediatamente nos faz pensar em nossos arquivos, nossas conexões, nosso HD externo. Provavelmente,
temos muitas coisas ocupando nossa tela, mas não podemos esquecer que nada disso substitui a conversa
franca, o olho no olho. Conhecer nossos filhos é mais que saber o nome da escola e seus horários, mas é
acompanhá-los, saber quem são seus amigos, do que eles gostam, onde eles estão. Se não nos atentarmos para
isso, corremos risco de nem ter mais arquivos para armazenar e compartilhar.
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