domingo, 4 de outubro de 2009

Apenas uma vez

Apenas uma Vez (2008)

Branca Machado – 30/04/2008


Alguém já imaginou assistir a um CD sendo cantado, mas não em uma apresentação ou num videoclipe e suas metáforas, mas como se suas músicas surgissem em situações cotidianas? É esta a sensação que o filme “Apenas uma vez” nos proporciona. Assistir, em um contexto natural, à canções sendo interpretadas. Também não se trata daqueles filmes musicais em que os personagens cantam no lugar de conversarem, ou como se estivessem trabalhando. Nos quais temos que aceitar a canção naquele momento, mesmo não sendo natural.
O filme ganhou o Oscar de melhor canção original com “Falling Slowly”. Linda canção e que não deixa de ser um resumo da relação entre os protagonistas. Seu roteiro foi escrito a partir de 10 músicas inéditas. Tais músicas foram encomendadas pelo diretor John Carney a Glen Hansard, líder da Banda “The Frames”, em um concerto da mesma na cidade de Dublin no ano de 2005. O resultado é um musical diferente no qual as músicas não causam estranhamento, não parecem intrusas, já que a situação foi inspirada na canção e não o contrário. Neste filme, as músicas são a ação.
“Apenas uma vez” é uma produção barata e, por isso, simples, mas que encanta pela sensibilidade e pela química entre os personagens que nos parece muito verdadeira. Em nenhum momento sabemos os nomes dos dois. Ele (Glen Hansard) é músico de rua e canta músicas populares em frente à estação de trem de Dublin. Ela (Markéta Inglová) é uma jovem mãe que vende flores na rua. Ela é casada. Deixou o marido em seu país de origem, a República Tcheca. O marido não gostava que ela tocasse e cantasse.
Ambos são músicos e ela gosta de ouvi-lo tocar quando passa pela estação. Principalmente à noite, quando ele toca músicas próprias. Os dois são pobres, talentosos e sensíveis. Ela surge como motivação para que ele faça daquelas composições algo de que ele possa se orgulhar, ganhar dinheiro, fazer shows, e não apenas guardar para ele. E, se a ex–namorada inspirou as letras daquelas canções, esta nova garota o faz perceber que elas são universais e merecem ser produzidas.
Os protagonistas possuem vidas duras. Mas que possuem algo muito especial porque há música. Ela, como não possui um piano, toca o instrumento na loja musical no horário de almoço. Ele possui um violão que, por sinal, está muito velho. Mas, quando os dois tocam “Falling Slowly” juntos na loja, não há nada mais belo. E a música se encaixa perfeitamente ao momento: I don’t Know you, but I want you even more for that,… (“Eu não a conheço, mas a quero ainda mais por isso...)”. Gostaríamos, inclusive, de ficar mais tempo naquela loja.
O filme é escuro. Sua luz é natural e ele é filmado em ambientes simples, pouco iluminados. Isso se deve ao seu baixo custo de produção - 150 mil dólares. A falta de luz incomoda. Mas, para mim, além de enfatizar a pobreza dos personagens, ela acaba valorizando a trilha sonora, que não deixa de ser a grande protagonista do filme. A música ilumina. Quando começa a canção, não percebemos mais a escuridão.
Quando finalmente eles resolvem produzir as canções, chega a ser comovente a inexperiência dos dois no estúdio. E é reconfortante assistir à mudança de comportamento do profissional da gravadora na medida em que eles começam a gravar. Ele gosta das músicas. Como nós, ele sente que o especial de “Apenas uma vez” é que nossa vontade é assisti-lo e, portanto, ouvi-lo mais de uma vez.

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