quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os Donos da Noite

Os Donos da Noite
Branca Moura Machado – 23/11/2007

“Os donos da noite” é a história de uma vida virada pelo avesso. Levando um homem, ironicamente, ao mesmo objetivo final: ser o dono da noite. O homem em questão é Bobby Green (Joaquin Phoenix). E sua trajetória parece perguntar: Até que ponto você pode ser feliz à custa de tantas outras coisas, segredos, família, dignidade? Até que ponto você pode ser inconseqüente? Até que ponto você pode não tomar partido? E parece também responder que um dia a vida cobra e que você terá que responder por suas escolhas.

No início, há uma seqüência de fotos em preto e branco que retratam ações da polícia. Em uma delas, a câmera se aproxima dentro da própria foto, enfatizando o escudo usado pelos policiais, à época, no qual está escrito: “We own the night (somos os donos da noite)”.

Dirigido por James Gray, o filme se passa na Nova York de 1988, período em que o tráfico de drogas na cidade aumentou sensivelmente e a relação dos traficantes com a polícia estava se tornando uma guerra. Fato que explica o estranho slogan policial enfatizado anteriormente: alguém tinha que “tomar as rédeas” da noite em Nova York. E este alguém tinha que ser a polícia.

Bobby gerencia a boate El Caribe para um russo chamado Marat Bujavev (Moni Moshonov), conhecido como o “tio”. Ele trabalha na noite e conhece as figurinhas “carimbadas” que a freqüentam. Mantém um ótimo relacionamento com todos. E, para evitar conflitos, esconde o fato de que pertence a uma família de policiais. Seu pai Burt Grusinsky (Robert Duvall) e seu irmão Joseph (Mark Wahlberg) são oficiais exemplares. Bobby é o filho que seguiu outro caminho, o mais longe possível dos dois.

Só que o tão longe se torna tão perto quando Joseph passa a investigar Vadim (Alex Veadov), o sobrinho do “tio”, e pensa que Bobby pode ajudá-los. No diálogo em que ele pede a ajuda do irmão, percebemos o quanto os dois possuem posicionamentos diferentes. Joseph diz a Bobby: “ A cidade está em pedaços. Cadê seu senso de responsabilidade?”. E Bobby rebate: “Não tenho. Não tenho mesmo.” O pai, mais tarde, resume para Bobby que seu distanciamento não poderá durar muito tempo: “Cedo ou Tarde, você estará conosco ou estará com os traficantes. Há uma guerra lá fora.”

Bobby vive numa maratona de drogas, jogos, bebidas, noitadas intermináveis. Joseph e Burt consideram a missão policial como uma missão de vida. Não é à toa que James Gray pontua a irritação de Sandra (Maggie Kiley), esposa de Joseph, em virtude da exagerada dedicação do marido ao trabalho, na cena de sua condecoração. Logo, percebemos que, naquela família, cada um é, ou pretende ser, dono da noite de maneira diferente. Um conflito interessante entre os irmãos é estabelecido. Até o dia que Joseph sofre um atentado... E Bobby ouve da boca do próprio Vadim que ele é o responsável por este crime. Não dá mais para Bobby ficar de fora. Está na hora de ele decidir de que lado está.

De certa forma, a trajetória de Bobby é a de Michael Corleone (Al Pacino) em “O Poderoso Chefão”. Só que, enquanto um vai para lá, o outro vem para cá. Mas os dois são arrastados para estes lados pelas circunstâncias e não por vontade genuína. O sentimento de família e o amor fraterno é maior que o objetivo de vida que eles se impuseram. E isso é belo. É gratificante. E, apesar de se tratar de um filme com temática violenta, não deixa de dar uma lição natalina, ao valorizar a história de vida e as relações que realmente contam nas decisões difíceis e definitivas do protagonista.

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