quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Na Natureza Selvagem

Na Natureza Selvagem (2007)




Branca Machado – 14/05/2008



“Na natureza Selvagem” começa com uma citação de Lorde Byron: “Não amo menos o homem, mas mais a natureza”.Numa separação que, particularmente, nunca achei muito fácil. Como “não amo menos o homem, mas mais a natureza”? No fundo, um não está contido no outro? O homem não é parte da natureza?

Como o colega Roberto Domingues de Moraes escreveu na sua coluna de maio, tendemos a dividir nossa percepção do mundo “entre o que achamos proveitoso ou nocivo de acordo com nossas inclinações momentâneas”. Para Chris McCandless (Emily Hirsch), o protagonista do filme, a natureza era proveitosa e o homem, o elemento nocivo.

O filme é dirigido por Sean Penn e baseado no livro homônimo do jornalista John Krakaeur que refez a trajetória real de Chris pelo interior dos Estados Unidos até seu objetivo final de viver no Alasca, em meio à natureza selvagem.

No início, vemos Chris chegar ao estado e o motorista que lhe dá carona chama: “Você deixou suas coisas no painel!” E ele responde: “Pode ficar!” Sempre desprendido, sem se importar com coisas materiais, agora sim ele está onde sempre quis. Numa espécie de enfim sós, há somente ele e a natureza. Chris carregava um diário e, nele, escreveu: “Há 02 anos ele vaga pela Terra sem telefone, sem piscina, sem bicho de estimação, sem cigarros”.Isto é algo de que ele se orgulha. Cada vez mais, ele precisa de menos.

Então, agora que sabemos que ele chegou, o filme retroage dois anos, à época de sua formatura. Ele se forma e os pais comemoram com um jantar. No restaurante, após os pais lhe oferecerem um carro novo de presente, ele replica: “Para quê eu quero um carro novo? Eu não quero nada! Tudo são coisas. Coisas. Coisas!”.Percebe-se que há um conflito ideológico e tenso entre pai e filho. Pela narração de sua irmã, ficamos sabendo que ele tinha um rigoroso e próprio código moral. Com Wayne (Vince Vaughn), ele comenta: “Não entendo por que as pessoas são más o tempo todo!” E o amigo replica: “Você não devia levar tudo a ferro e fogo!”.E é assim mesmo que Chris se comporta. De uma pureza quase infantil, ele não admite nada que não seja totalmente puro. Não perdoa muita coisa. E não perdoa, principalmente, a seus pais. Para ser como Chris exigia, somente a natureza... Em seu desaparecimento, ele muda até de nome, passa a se chamar Alex Supertramp.

Sean Penn faz uso da montagem paralela de maneira eficiente. Ele mostra Chris andando, filmado de costas, quando resolve deixar tudo, e os pais o procurando; o amigo o ensinando a sobreviver na selva e ele anotando. Além de economizar tempo de narrativa, o diretor cria significados maiores colocando uma cena ao lado da outra. Na primeira, com o filho andando de costas e os pais angustiados, mostra-se um afastamento emblemático entre estes e o filho. Na segunda, voltamos ao primário com um aluno fazendo anotações em um caderno de espiral. Não é com esse preparo que se sobrevive no Alasca...

As imagens da natureza são lindas. Verdadeiros cartões postais. Em alguns momentos, dá até para entender a escolha do personagem... Quando Sean Penn enfatiza o choque de Chris/Alex chegando à cidade grande, sentimos a mesma coisa. A cidade causa estranhamento. Agride. Era melhor fora dali. É preciso que a gente pense assim, que a gente o entenda. A câmera lenta, o congelamento, ele está refletindo... Sabemos disso. Ele vive assim por opção.

Em uma conversa entre Alex/Chris e Wayne, este pergunta: “O que você vai ficar fazendo no meio da natureza selvagem do Alasca?” Ele responde:”Vivendo!”. Até então, para Chris, a vida era aquilo. Ele teve que passar por muita coisa para amadurecer. Afinal, as pessoas têm histórias. Algumas, piores. Algumas, melhores. É preciso saber encarar. Chris lia muito, principalmente as obras de Liev Tolstoi e Thoreau. Mas costumava interpretá-las também de uma maneira imatura. Quando ele finalmente cresce, escreve em seu caderno: “A felicidade só é real quando compartilhada”. E o mais significativo é que, no momento em que ele descobre isso, ele volta a assinar como Chris McCandless.

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