quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Separados pelo casamento

Separados pelo Casamento (2006)


Branca Moura Machado

O filme “Separados pelo Casamento” de Peyton Reed é um filme sobre uma mulher e um homem comuns tentando manter seu relacionamento. Não se trata de uma comédia romântica, apesar de ter algumas características dela, mas do retrato de um relacionamento amoroso e, assim, vem com a dose de humor e drama que necessariamente o acompanham. Um filme como “Sobre ontem à noite” e “Irmãos McMullen”, entre outros: despretensioso, quer apenas contar a história de um relacionamento comum, desses que a gente vê e se identifica. Estamos na tela, nossos dramas cotidianos retratados, sem enfeites ou soluções fantasiosas.

Brooke (Jennifer Aniston) e Gary (Vince Vaughn) namoram e moram juntos há dois anos. O namoro já não é mais tão empolgante e aqueles defeitos um do outro que, antes, achavam perfeitamente superáveis, já se tornaram bastante incômodos.Numa noite, após um jantar de integração entre suas famílias, acabam terminando. Mas continuam morando no mesmo apartamento até que ele seja vendido. O que vemos a partir dali são duas pessoas agindo exatamente ao contrário do que estão pensando e sentindo. Gostam um do outro, querem voltar, mas nunca vão assumir isso e, dessa forma, começam a se torturar. O filme passa, então, a mostrar os joguinhos emocionais do casal com os quais nos identificamos plenamente.

A começar pela briga que dá origem ao rompimento do casal. Tudo ali é originado pela falta de entendimento entre as mensagens emocionais femininas e a sensibilidade masculina. A mulher é mais metafórica, quer que o homem entenda as entrelinhas. Já o homem é direto e quer tudo dito e bem explicado. Brooke briga com Gary porque ele não se oferece para ajudá-la a lavar a louça após o jantar. E, após ela ter de pedir isso a ele, já não adianta mais Gary se levantar para lavar a louça. Depois de cobrada, aquela atitude já não tem valor nenhum. No momento, parece que ela briga por causa de nada, mas, na verdade, é por causa de tudo. É interessante notar que, mais ao final do filme, Gary tem uma discussão com seu irmão mais velho, Dennis (Vincent D´Onofrio), que também é seu sócio, e esta discussão de certa forma é parecida com a que ele tem com Brooke após o jantar. O irmão reclama das mesmas coisas que ela. Ou seja, não se trata de mera maluquice feminina, ou da famosa “TPM”, Brooke, talvez, tivesse razão ao ter estourado daquela forma.

O filme possui algumas cenas cuja montagem é interessante. A cena em que Gary está jogando e Brooke passa nua na frente dele é construída da seguinte forma: ele olha para ela e para o videogame em que está lutando boxe, olha para ela e para o videogame e, finalmente, leva o nocaute no videogame. A reação dele não é mostrada em palavras ou, até mesmo em sua expressão, mas o nocaute já conclui de maneira eficiente o efeito da passagem de Brooke. A montagem do elevador, em que a imagem de Gary funde-se, na medida em que a porta do elevador se fecha, com a do pretendente dela que está no corredor, também é carregada de simbolismos.

Como já foi dito, a identificação é um dos aspectos que mais agrada no filme. São temas recorrentes a qualquer casal. Quando eles jogam Imagem e Ação, Brooke desenha uma meia e Gary aparece desesperado, tentando adivinhar do que aquele desenho se trata. Praticamente todo homem se desespera  com sua namorada quando eles estão perdendo um jogo no qual estão em dupla. Não há hipótese de perderem o jogo por causa dele. A cena na qual Brooke está sentada, sozinha, com o público todo se divertindo a sua volta no show do The OLD 97´s também é emblemática. Ela está, mas não está ali. Brooke queria tanto ir ao show, mas, ao final, é nele que ela cai na real. Que sente o baque da separação. Isso acontece em nossas vidas: sozinhos na multidão. Quando nosso drama particular está com a gente, sentimos-nos exatamente daquele modo em algum evento público ou social.

Quando o filme se aproxima do lugar comum e do exagero, ele fica ruim. Como por exemplo, quando o irmão (possivelmente gay) de Brooke bate em Gary ou quando ela vai conversar com a patroa e a patroa está usando um homem nu como modelo para um desenho. Tais cenas não são necessárias ao filme e, sem elas, ele ficaria ainda melhor. Aliás, a família de Brooke, como também sua patroa, é mostrada de forma caricatural. São personagens irreais em um drama dos mais reais, o que prejudica o filme. Quando eles aparecem, quebram nossa identificação.

O final é eficiente e natural. Aquele casal, naquele momento, não ia conseguir ficar junto. Eles tinham dito muita coisa e se machucado muito. Mas, num encontro casual, daqui a algum tempo, quem sabe?

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