quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Vôo 93

Vôo 93 (2006)


Branca Moura Machado

O filme Vôo 93 não é um filme dramático, apesar de o drama ser parte intrínseca do seu tema. Não nos faz chorar, apesar de ter um imenso potencial para isso. Mesmo assim, saímos do filme com um aperto no fundo do peito, já que sabemos que aquele não é um fato localizado, mas sim uma ameaça constante em que já não se sabe quem são os mocinhos e os vilões e, muito menos, qual é a solução para ela...

O diretor Paul Greengrass realizou um filme objetivo em que tenta reconstruir o que aconteceu no interior daquele vôo, o único que não atingiu seu alvo (o Capitólio) em 11 de setembro de 2001. Paralelamente, ele retrata os bastidores do tráfego aéreo e da defesa americana, às voltas com um atentado inédito na história da segurança do país. Afinal, como afirma um dos profissionais mostrados, “há 20 anos não havia um seqüestro de avião nos EUA!”. Ao reconstruir o interior daquele vôo, Paul Grengrass especula sobre os acontecimentos, já que se baseia apenas em esparsas gravações feitas durante o vôo, e nos depoimentos de parentes das vítimas que conversaram com elas pelo airfone. Já, ao retratar os bastidores do tráfego aéreo e da defesa americana, o filme assume um caráter documental, pois aquelas pessoas estão vivas para relatar o que ocorreu na manhã de 11 de setembro.

Durante o filme, vemos as pessoas embarcar para um vôo normal entre Nova York e São Francisco e os profissionais assumirem sua rotina no aeroporto. Mas, como sabemos o que vai acontecer, os procedimentos rotineiros de vôo assumem um caráter bastante sombrio. A costumeira frase “Coloquem os cintos!”, a porta do avião se fechando, as aeromoças demonstrando os procedimentos de segurança aos quais ninguém dá atenção; tudo isso assume um significado a mais. Não há preocupação com a segurança. Os passageiros estão lendo, fazendo crochê, ouvindo música, dormindo. Em 05 horas, eles estarão em São Francisco.

Imagens mostradas casualmente possuem uma carga emocional enorme. Quando o avião decola de Nova York, o piloto chama atenção para que os passageiros aproveitem a paisagem. A câmera, então, focaliza a vista pela janela do avião e as torres estão lá! Daqui a poucos minutos, nada seria como antes... Uma cena simples, mas que nos faz entender a cronologia dos acontecimentos. O vôo 93 decolou e, pouco depois, o primeiro avião atingiria a torre do World Trade Center. Ao filmar o olhar dos terroristas sobre os bancos do avião, antes de a missão começar, o que vemos é um olhar doce, de certa maneira amendontrado, mas principalmente obstinado. E, por causa disso, aquele olhar chega a nos dar arrepios. Também são notáveis os comentários dos profissionais na terra, tentando entender os acontecimentos. Um deles afirma: “Um piloto não faria isso! Se atiraria no Rio Hudson, mas não faria isso...”.

Conhecemos os passageiros pelas conversas e comentários casuais, mas nenhum individualmente.Até mesmo, quando eles falam ao telefone, numa espécie de despedida, nunca se mostra o outro lado da linha. O que interessa é o fato, o interior do avião, e não o drama individual. Trata-se de uma ação coletiva dos passageiros contra uma ação também coletiva dos terroristas.

A reação dos passageiros nos faz refletir sobre a esperança. Ali dentro, ao perceber que se tratava de uma missão suicida, eles só tinham duas opções: ou esperar sentados, ou tentar fazer algo para pelo menos tentar salvar suas vidas, ou, quem sabe, só perder aquelas vidas e a de mais ninguém. Não dá para saber se ali havia a esperança de eles saírem realmente vivos ou de apenas impedir que acontecesse coisa pior. Motivos egoístas ou altruístas? Isso realmente interessa? Para mim, eles foram heróis porque reagiram. Foram capazes de agir coletivamente para mudar uma situação que lhes era desfavorável. Era fácil desistir, mas eles optaram por agir.

A meu ver, a cena mais comovente do filme é a que mostra os passageiros e os terroristas rezando cada um do seu lado, cada um por seus motivos e todos com suas razões. Lembrei-me de uma frase que diz “O que há de mais cruel nesse mundo é que cada um tem as suas razões”. E é isso mesmo. O filme retrata uma situação cruel que é conseqüência de uma longa história sem solução. Muitos filmes semelhantes já poderiam ter sido produzidos, muitas situações parecidas podiam servir como tema, tanto de um lado quanto do outro. E isso é o mais triste.

Nenhum comentário:

Postar um comentário