quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Meu nome não é Johnny

Meu nome não é Johnny (2007)

Branca Machado – 07/01/2008

“Meu nome não é Johnny” é sobre perdão, redenção, sobre alguém que pega uma chance que lhe foi dada e faz por merecer. Durante o filme, acompanhamos João Guilherme Estrella (Selton Mello) ganhar uma nova vida. E quem enxerga além dos fatos e proporciona a ele este grande presente é a juíza Marilena Soares (Cássia Kiss) que, apesar da evidência do crime de tráfico cometido pelo protagonista, soube interpretar e definir a pena além da letra fria da lei.

Enquanto João esteve preso, a juíza lhe enviou um cartão de Natal com uma citação de Marguerite Yourcenar que dizia: “O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos (...)” No filme, percebemos que João demorou a nascer e errou muito até olhar realmente para si mesmo.

Baseado no livro de Guilherme Fiúza, o diretor Mauro Lima reconstrói a história verdadeira de João Guilherme Estrella, que cresceu como o típico garoto da zona sul carioca, e, na idade adulta, transformou-se no maior vendedor de drogas do Rio de Janeiro. No início, somos confrontados com cenas do protagonista preso na Polícia Federal, alternadas com cenas de filmagens caseiras de sua infância, com ele, menino, vestido de cowboy. Com esta montagem paralela, o diretor nos diz: vamos mostrar
 como é que este garotinho foi parar ali.

Em seguida, voltamos à infância de João e percebemos que, dali, já vinham características de uma pessoa que não sabia e não foi educada para perceber o limite entre o certo e o errado. Numa cena emblemática, o garoto, aproximadamente aos 06 anos de idade, solta um foguete dentro da sala de televisão. O pai, ao invés de repreender o filho pela travessura perigosa, acaba o levando ao Maracanã para ver a final do Vasco. Mais tarde, após a separação dos pais, João fica morando com o pai. Mas ele é ausente, está doente, deprimido, deixa o filho dar loucas festas quase todas as noites e não o censura ou reprime. João chega a comentar: “Meu pai é tipo um vizinho, sabe?”.

Ele não tinha maiores ambições além de se divertir. E isto é bem caracterizado em seu primeiro diálogo com a namorada, Sofia (Cléo Pires): “Eu não faço nada, mas sou bom no que faço. Neste ramo de não fazer nada”.Mas, para não fazer nada, e, ao mesmo tempo, dar festas, beber, fumar maconha e mais é preciso ter dinheiro... Por que não vender para comprar? A lógica é estabelecida e João fica famoso, seu novo negócio é um sucesso. Sua postura perante sua atividade é resumida por um amigo preocupado: “Você fala como se fosse vender pulseirinhas de crochê em feira de artesanato!”.

João ganha muito e gasta muito. O negócio cresce. Fica internacional. Uma cena que retrata a inconseqüência de Johnny e Sofia, incluída com eficiência pelo diretor, é aquela em que eles rodam as ruas de Barcelona num carro conversível, tomando champanhe, a sirene da polícia faz “úúú´”, sinalizando para o carro parar, e Sofia responde do carro, divertida “úúú´”. Além de comprovar a ingenuidade do casal diante do que estão fazendo, ainda mostra que, apesar de tudo, eles sempre serão marginais e que a qualquer momento podem ser pegos.

De volta ao Rio, o céu está cinzento. Sofia começa a implicar com as constantes festas e bagunças do namorado. O ritmo do filme muda como um prenúncio do que virá. Johnny se arrisca mais, ousa mais e, conseqüentemente, é descoberto. Ele vê os amigos sendo presos: a ficha cai. Há o Johnny e há o João. E, neste momento, nasce o João.

Em seu julgamento, ele diz para a juíza: “Não sou nenhum Pablo Escobar. Não tenho quadrilha e não tem fortaleza. Meu nome não é Johnny. Meu nome é João. Eu nunca soube o que é dentro e o que é fora da lei”. Sua confissão é emocionante. Ele estava cheirando mais de 100 gramas de cocaína por semana, na época em que foi preso. E não deixa de ser maravilhoso e recompensador, assistirmos ao próprio João Estrella, em entrevista recente à Marília Gabriela, citar a seguinte frase como regra de vida: “A lucidez é a melhor de todas as drogas”.

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