quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O que você faria?

O que você faria? (2006)


Branca Moura Machado



“Até onde você chegaria para ser o escolhido?” Esta é a frase que encerra o trailer de “O que você faria?”. Ao sairmos do filme, chegamos à conclusão de que aqueles personagens foram longe demais. Ele é mais um exemplo em que percebemos que “de todos os inimigos da humanidade, que até hoje já surgiram, o maior deles é sem dúvida o próprio homem”.

Sete candidatos, escolhidos por seus currículos, participam da última etapa de seleção para um cargo importante em uma multinacional. A partir daí, eles são submetidos a várias tarefas; em cada uma delas, um deles será eliminado. E o nível de humilhação a que se submetem em cada atividade realizada vai deteriorando o estado de espírito dos que ficam.

No início do filme, o diretor Marcelo Piñeyro realiza um eficiente uso de telas divididas que mostram diversas ações concomitantes, reduzindo o tempo gasto na introdução da história. Ele mostra, inclusive, que, naquele dia, haverá uma manifestação contra a globalização na cidade.

Durante todo o tempo, escutamos os clichês deste tipo de seleção: “Parabéns por terem chegado até aqui!”; “Só por estarem aqui, vocês são vencedores!”; “Entraremos em contato”. Nosso consolo é perceber que isso é universal. Mas, ao mesmo tempo, entristece-me pensar que não existe uma maneira mais justa e menos competitiva de se entrar no mercado de trabalho. Pelo menos, nas grandes corporações. A cultura, desde o processo de seleção, é de literalmente atropelar o outro.

O diretor realiza muitos closes, planos e contraplanos, procurando criar o embate psicológico e real tensão em torno daquela mesa. Quem já jogou “assassino” vai se identificar com a primeira tarefa da seleção do filme. Nela, os sete candidatos devem adivinhar quem entre eles é um funcionário da empresa infiltrado. O mesmo clima de desconfiança ao se olhar nos olhos ao redor da mesa e não saber se aquele é o assassino que vai te tirar do jogo é o que toma conta dos personagens a partir dali. Essa desconfiança, acompanhada de acusações, infligidas na primeira tarefa, vão permear todo o processo de seleção e evoluir a limites degradantes.

O filme carrega nos diálogos, já que é baseado numa peça teatral. Talvez, a adaptação para o cinema pudesse ter diminuído o textual e usado mais a linguagem cinematográfica. Em contraponto, as interpretações são perfeitas. Reconhecemos aqueles tipos, sentimos a tensão latente e a deterioração psicológica de cada um deles.

Ao final, acompanhamos um dos candidatos sair do prédio, após sua eliminação. Por causa da manifestação, a rua está destruída, suja, cinzenta; os carros, quebrados ... A rua é uma metáfora de seu estado de espírito. Não só seu como também de todos os outros que já saíram. E, talvez, também seja o estado em que se encontra o escolhido. Quem sabe, ele concorde com a clássica afirmação de Pirro, após sua famosa batalha: “Outra vitória como essa e estaremos perdidos!”?

Nenhum comentário:

Postar um comentário