sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Scoop - O Grande Furo

Scoop – O Grande Furo


Branca Moura Machado – 07/05/2007

Meu pai diz que assistir a um filme do Woody Allen é como tomar uma boa taça de champanhe. Eu concordo com ele. A gente sai leve de seus filmes, relaxados. Sou fã do diretor e, mesmo quando dizem que ele está perdendo a forma, que seus roteiros estão inacabados, considero-os originais, engraçados, sutis e inteligentes.

A comédia Scoop - O Grande Furo não é exceção. Durante o filme, assistimos à Sondra (Scarlett Johansson), jornalista recém formada em visita a Londres, investigar alguns assassinatos realizados por um serial killer conhecido como o “Assassino do Tarô”. Seu principal suspeito é Peter Lyman (Hugh Jackman), um aristocrata inglês. O personagem que a auxilia em toda a investigação é um mágico chamado Sydnei, interpretado pelo próprio Woody Allen. Em um certo momento, Sondra diz: “Eu sou uma pseudo-repórter investigativa que se apaixonou pelo objeto investigado”. E esta frase de certa forma resume o filme.

A pista que dá origem à investigação da repórter é típica de Allen. Sondra está assistindo ao show do mágico e acaba como “cobaia” de um dos seus truques. Quando ela está dentro da caixa “desfragmentadora de moléculas”, recebe a visita do espírito de um famoso repórter investigativo recém falecido que lhe dá a pista para iniciar tal investigação. Só mesmo Woody Allen para resgatar um morto através de uma caixa “mágica” e, com uma premissa dessas, fazer a história dar certo.E sem soar ridículo.

O que seria clichê não é clichê. A morte está lá, encapuzada, sem rosto, com seu cajado em punho, mas ela é isso mesmo: a morte. E, quem está em seu barco, continua sendo quem é, mas, agora, para a eternidade. A morte se torna leve e sem muito mistério. Ela é. Em seu barco, escutamos frases inseridas em diálogos casuais entre mortos do tipo: “Mais tarde naquele dia, eu morri de repente”.

Sondra irá investigar a mais alta classe da aristocracia inglesa e leva o mágico com ela. Em uma discussão entre os dois, Sydnei comenta que os nobres ingleses possuem um sistema próprio de classes: os aristocratas e a ralé. Neste sentido, o filme lembra Ponto Final, do mesmo diretor, por trabalhar com o que há de mais nobre na Inglaterra e com o outro lado: aquele que tenta se aproximar desse núcleo. Com expressões do tipo “vamos caçar raposas”, ou: “Eu a ouvi afogar. Terminei rapidamente meu chá com biscoitos e vim correndo te salvar”, Woody ironiza o modo de ser e viver da nobreza inglesa.

Hugh Jackman interpreta um verdadeiro gentleman, charmoso e elegante na medida certa. Como o provável suspeito, ele nos deixa sempre com uma pulga atrás da orelha sem saber se podemos confiar nele. No filme, estamos como Sondra: quase confiamos, e, principalmente, queremos muito confiar. Jackman lembra Cary Grant como Jonh Robie, bon vivant e ex-ladrão, em ”Ladrão de Casaca” de Hitchcock. Ambos possuem personalidades dúbias, mas extremante sedutoras.

Com uma boa trilha sonora, locações elegantes e tiradas  como: “Excitante na minha vida é jantar sem ter azia depois” ou “O homem é um mentiroso e um assassino. E falo isso com todo o respeito”, o filme não possui maiores pretensões, além de ser uma boa comédia. E existe coisa melhor que assistir a uma boa comédia? Ou tomar um bom champanhe? Ou, quem sabe, os dois? Fica aí a sugestão.

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