quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O Homem Urso

O Homem-Urso (2005)


Branca Moura Machado

O Homem-Urso é um documentário diferente. A maioria das suas cenas foi coletada pelo próprio documentado, Timothy Treadwell. Werner Herzog, diretor do filme, aproveitou grande parte das filmagens que Treadwell gravou durante suas expedições ao Alaska, nos verões que passou em visita aos Ursos-Pardos.

Por 13 verões consecutivos, o ecologista foi para o Alaska viver desarmado entre esses animais. Nas últimas 05 vezes, ele documentou sua viagem com uma câmera. Herzog utiliza essas filmagens para explorar a personalidade de Treadwell e levantar questões sobre suas escolhas e também de como elas acabaram se tornando “a crônica de uma morte anunciada”. Herzog considera Treadwell um cineasta, então o filme assume um aspecto interessante em que assistimos a um cineasta trabalhar com imagens e idéias de outro cineasta. Os comentários de Herzog debatendo as opiniões do próprio Treadwell dão um caráter único ao filme, parece que ele dialoga com o ecologista, discute, questiona suas escolhas, apesar de admirá-lo. Ele realiza um contraponto interessante sem querer condenar ou transformar Treadwell em herói ou mártir.

Em um certo momento, ao refletir sobre uma imagem captada por Treadwell, Herzog comenta que algumas cenas filmadas pelo ecologista assumem vida própria. E trata-se disso mesmo: as cenas adquirem um significado que Treadwell com certeza não pretendia. Quando Treadwell filma uma abelha aparentemente morta sobre uma flor e comenta chateado que ela morreu realizando seu trabalho, ele resume seu próprio destino, já que considerava aquelas expedições seu trabalho, sua vida. Aquela cena, influenciada pelo contexto, assume um caráter premonitório.

As imagens do ecologista e os ursos, em que “contracena” com eles, impressionam pela proximidade em que ele se encontra dos animais, pela coragem e audácia que ele tinha diante daqueles animais selvagens. Ele conversa com a câmera, em primeiro plano, com um urso (ou vários) bem atrás dele e se movimentando. É de arrepiar. Treadwell realmente se considerava um deles, achava que pertencia mais àquela comunidade do que à nossa. E, talvez, tenha sido esse seu erro. Em um certo momento do filme, Herzog entrevista um morador local que considera que Treadwell desrespeitou os ursos, já que “o lugar deles é lá e o nosso é aqui”. É triste também constatar que aqueles ursos, por viverem em uma reserva, na verdade não precisavam de ajuda. Aquele “trabalho” ironicamente era vital para Treadwell e não para os ursos.

Um comentário:

  1. Valeu pelo texto, de grande ajuda para meu trabalho de antropologia.

    ResponderExcluir